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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

O trágico desfecho daquele desgraçado drama de amor e de depravação,<br />

que os jornais diários trataram logo de explorar, a impressionou profundamente pelo<br />

seu lado espetaculoso, e veio a servir para acrescentar ao novo capricho da loureira<br />

pelo tal guarda-marinha de dezoito anos, uma nota sentimental e fatídica, que o<br />

tornava muito mais esquisito e saboroso.<br />

E a farsante <strong>Condessa</strong> teria sem dúvida tirado muito maior partido desse<br />

teatral episódio da sua espaventosa existência, se nessa ocasião não lhe<br />

aparecesse uma alta e sedutora empresa, a que ela de pronto se lançou, sem<br />

distração da menor partícula de sua atividade.<br />

É que acabava de cair sobre o Rio de Janeiro, depois de uma divertida<br />

viagem de correção à volta do mundo civilizado, o famoso e estouvadíssimo príncipe<br />

D. Felipe sobrinho, do Imperador e aluno da Escola Militar.<br />

D. Felipe era o tormento do velho Monarca, que na sua patriarcal rapidez de<br />

atos públicos e privados, nem lhe daria de novo acesso em palácio ao lado dos<br />

netos infantes, se não foram as intercessões da virtuosa e compassiva Imperatriz<br />

Dona Teresa. D. Pedro II não perdoava ao sobrinho as estroinices e extravagâncias,<br />

que às vezes, força é confessar, degeneravam em ribaldaria e maldade.<br />

Dera motivo à correcional viagem de que agora tornava sua Alteza, uma<br />

terrível diabrura celebrizada nos anais contemporâneos da vida fluminense; e foi que<br />

um dia, depois de uma formidável desordem no jardim do Alcazar, a polícia, no meio<br />

de grande pancadaria, cadeiras partidas, mesas e cabeças rachadas, colhera vários<br />

estudantes da Praia Vermelha, entre os quais se achava o incorrigível príncipe.<br />

D. Felipe foi, com os seus colegas de curso acadêmico e companheiros de<br />

pândega, conduzido pela força policial à Escola Militar, porque só aí podiam, ele<br />

como aqueles, serem submetidos à prisão.<br />

Imagine-se em que estado não iriam!<br />

Eram três horas da madrugada quando lá chegaram, e o fato, aliás comum,<br />

teria passado sem notoriedade, se o demônio do rapaz não se lembrasse de, ao<br />

enfrentar com o corpo de guarda da imperial academia, sacar da algibeira o Tosão<br />

de Ouro que levava consigo, e, com ele pendurado ao pescoço, entrar solenemente<br />

no bélico recinto.<br />

Como de rigor, o Oficial de guarda mandou bradar armas ao Tosão de Ouro,<br />

o que equivalia a dar sinal da presença do Imperador, pois no Brasil só este até aí<br />

ousara servir-se dessa cavalheiresca ordem de Felipe o Bom, apesar de ser ela<br />

facultativa aos outros membros varões da família imperial brasileira.<br />

Fez-se alarma. Toda a Escola ferveu logo num levante, ao estrugido de<br />

tambores e clarins que chamavam a postos o Estado Maior.<br />

E os velhos professores tiveram, em sobressalto, de afrontar o seu<br />

reumatismo, e precipitarem-se estremunhados aos competentes uniformes de<br />

grande gala, para receber a suposta visita de Sua Majestade.<br />

Foi por entre a formatura em peso da veneranda corporação da Escola, que<br />

D. Felipe, esbodegado e sorridente, atravessou para a prisão.<br />

Calcule-se daí o efeito de semelhante escândalo, e por ele quanto se não<br />

chocaria o circunspecto Monarca.<br />

Agora, de volta à Corte, D. Felipe vira uma vez Ambrosina às pernadas com<br />

um pobre cançoneta, naquele mesmo famoso teatrinho onde se engendrara pretexto<br />

a referida anedota histórica, e logo correu à caixa para se fazer apresentar à<br />

festejada exibicionista de belas formas, procurando incontinente requestá-la de<br />

assalto.<br />

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