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www.nead.unama.br<br />
Alfredo engoliu a última saliva, que o medo lhe havia gelado na garganta, e<br />
explicou a situação com a voz ainda trêmula.<br />
Um rumor lá fora chamou nesse momento a atenção de Jorge.<br />
— Com os diabos, que lá se nos vai o doido!<br />
Leonardo, com efeito, enquanto os dois conversavam, galgara a janela da<br />
dispensa e fugira pelo jardim.<br />
Foi nessa ocasião que ele seguiu para onde estava Ambrosina.<br />
Alfredo e o cocheiro, depois de certificados de que Leonardo não se havia<br />
escondido na chácara, apagaram o gás, fecharam a casa pelo melhor que puderam,<br />
e seguiram para a rua.<br />
Por onde diabo teria tomado aquele maldito? dizia e repetia Jorge, a olhar<br />
para todos os lados; até que percebeu Leonardo na ocasião em que este surgia<br />
junto à mulher.<br />
Jorge correu para lá, e Leonardo, mal o bispou, abriu num carreirão pela<br />
estrada, a fugir.<br />
— Fique com ela! bradou o cocheiro a Alfredo; que eu vou na pista daquele<br />
danado!<br />
E lançou-se a perseguir o doido.<br />
Dez minutos depois, voltava, coberto de suor.<br />
— Escapou-nos! o demônio! Mas deixa estar que não as perdes, patife! O<br />
lugar dos doidos é no hospício!<br />
E, voltando-se para Ambrosina, que recuperava os sentidos:<br />
— Ora, em que bonito estado deixou esta pobre criatura! Peste de um<br />
maluco!<br />
E, praguejando cada vez mais, o cocheiro amparou Ambrosina nos braços.<br />
— Pobre senhora! Tem os pés que são uma lástima!...<br />
Resolveu-se que iriam pernoitar em casa de Jorge. Ambrosina, por ser este<br />
o sítio mais perto, e Alfredo porque jurara aos seus deuses não largar àquela noite a<br />
companhia do cocheiro.<br />
— Nada! que o doido podia encontrá-la ainda pela estrada!<br />
Começou a chover.<br />
Só meia hora depois, apareceu um carro e, depois de outra meia hora,<br />
chegavam os três à modesta habitação do cocheiro — uma casinha na Praia do<br />
Russell; porta e janela, pouca mobília, quartos acanhados.<br />
Jorge era viúvo e tinha uma filha já moça, Laura, encanto da sua vida, e<br />
quem, nos arranjos da casa, ajudava a avozinha Benedita, mãe do cocheiro.<br />
Apesar de pobre, a habitação era asseada e risonha. Tudo ali respirava paz.<br />
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