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— Parece-me que tens pena de deixar o Rio de Janeiro!...<br />
— Que me importa o Rio, contanto que eu te tenha a ti!<br />
www.nead.unama.br<br />
E olharam-se com amor.<br />
Laura não dava uma palavra; tinha o olhar disperso. Não se animava de<br />
encarar com Gabriel.<br />
Estava cativadora. Vestia linho pardo, debruado de cadarço branco. A<br />
flexibilidade do seu corpo desenhava-se bem com aquela roupa inteiriça. Não levava<br />
outra jóia além de uma pequenina cruz de ouro sobre o peito. O chapéu de palha de<br />
Itália dava-lhe à fisionomia uma doçura admirável. Seria difícil dizer em que ia<br />
pensando aquela cabecinha!<br />
E assim chegaram os três à casa de Laranjeiras.<br />
Gabriel havia cambiado sua notas do Tesouro por dinheiro em ouro e<br />
saques bancários ao portador. E o esterlino ruído do metal, que ele acondicionava<br />
em uma gavetinha de segredo da secretária, fazia estremecer Ambrosina, que ao<br />
seu lado o apoquentava com perguntas.<br />
Laura, estendida num divã da sala de visitas, alheia a tudo que a cercava,<br />
embalava-se nos seus sonhos, a cabeça caída sobre a almofada, os braços em<br />
abandono, os olhos meio cerrados, o pensamento solto.<br />
Gabriel conversava com a amante, a mostrar-lhe o passaporte, o bilhete de<br />
viagem; e pouco depois, chegava um homem carregado de objetos que ele havia<br />
comprado na cidade, quase tudo roupa branca, mantas, agasalhos e charutos.<br />
Jantaram à noite o que veio do hotel!<br />
A manhã do dia seguinte correu sem novidade. O vapor, por motivos de<br />
moléstia do comandante que fora à última hora substitui-lo, só sairia ao pôr do sol.<br />
Gabriel andava atarefado; não sabia para onde voltar-se! Tinha ainda tanto que<br />
fazer!<br />
Mas Ambrosina o tranqüilizava: Que não se incomodasse ele absolutamente<br />
com as malas; ela se encarregaria de tudo. Gabriel que fosse tratar de saber se<br />
Jorge tomara as providências necessárias para prender Melo Rosa.<br />
Isso é que mais urgia!<br />
Gabriel, porém, onde poderia encontrar o cocheiro?... Em casa era inútil<br />
procurá-lo àquela hora; já passava das onze. Saiu. Foi à residência do padrasto<br />
nada obteve. A criada, todavia, disse-lhe que o cocheiro pouco antes ganhara a rua<br />
muito azafamado.<br />
— Onde o poderei encontrar agora?...<br />
Gabriel desceu preocupadamente a escada; levava o chapéu atirado para<br />
trás, a cara Talvez no largo de 5. Francisco...<br />
banhada de suor.<br />
Ao chegar à porta, encontrou um portador de Ambrosina à sua espera.<br />
O que temos.? perguntou surpreso.<br />
— Esta carta, que a patroa mandou entregar a vossemecê com toda a<br />
pressa.<br />
— Que novidade será?<br />
Era a carta combinada entre Ambrosina e Melo Rosa no sobrado da rua da<br />
Misericórdia.<br />
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