Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
— Você almoçou hoje?... perguntou-lhe Gabriel.<br />
— Não me lembra.<br />
— Bem! mas de ora em diante é preciso mudar de vida! Cá está um hotel.<br />
Entramos!<br />
O Marmelada hesitou.<br />
— Entre, homem!<br />
E Gabriel procurou o dono da casa para encarregá-lo de Alfredo.<br />
— É um amigo meu, disse-lhe, que por desgostos, caiu neste estado... O<br />
senhor tratará dele o melhor possível. Obrigue-o a recolher-se, faça-o comer alguma<br />
cousa, lavar-se, vestir-se de roupa nova; enfim, quero que ele não saia daqui, sem<br />
ter voltado ao seu primitivo estado de asseio e decência...<br />
— Mas, Dr., é que...<br />
— Não me diga que não! Aqui lhe deixo cem mil-réis para as primeiras<br />
despesas. Não tenho mais dinheiro comigo, porém, amanhã voltarei e desejo<br />
encontrar o seu hóspede em melhores condições... O principal é não deixá-lo sair<br />
sem estar restaurado.<br />
O hoteleiro afinal aceitou, e fez recolher Alfredo.<br />
Este não queria deixar-se prender.<br />
— Querem roubar-me! Berrava ele, debatendo-se. Querem roubar-me,<br />
porque tenho dinheiro comigo! É meu! deram-me! Há testemunhas!...<br />
Gabriel recomendou ainda uma vez o seu protegido e retirou-se, gozando a<br />
caridade que acabava de praticar.<br />
Ao chegar à casa, disse-lhe a criada que Gaspar havia saído.<br />
— E deixou o velho sozinho... Que imprudência!<br />
E foi fazer companhia ao coronel.<br />
Às dez da noite voltava Gaspar. Vinha radiante.<br />
— Meu pai, exclamou ele logo ao entrar; alegre o seu coração! Está<br />
descoberto o autor das mofinas! Alfredo dizia a verdade. Soube agora que chegara<br />
este a tal resultado, fingindo que dormia em um banco do Passeio Público, perto do<br />
qual conversavam o comendador Moscoso e o Melo Rosa. Procurei este último, que<br />
eu já conhecia, e consegui dele a confissão de tudo. O verdadeiro autor das mofinas<br />
é o comendador Moscoso!<br />
— Ah! agora compreendo, gritou o coronel, depois de um esforço de<br />
memória. O comendador Moscoso... Já sei! é um sujeito que desejou casar com<br />
Anita! Eu não consenti... Infame! E porque lhe neguei... Ah! mas caro o pagarás,<br />
miserável!<br />
— Nada de precipitações, observou Gaspar. É necessário fazer tudo com<br />
calma para obtermos bom resultado. Eu me encarrego do comendador! O senhor há<br />
de recebê-lo aqui neste quarto, sem se incomodar. Ele há de vir cá, há de ajoelhar-<br />
63