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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

as suas luzes quentes e sangüíneas, que lembram os sorrisos do pecado; a<br />

esmeralda, matinal e alegre como a lágrima do mar gotejada dos cabelos de<br />

Afrodite, ao lado da safira, triste e sombria. como as gotas da noite; e opalas,<br />

misteriosas e sinistras em contraste com turquesas cor do céu em dias felizes, e<br />

pérolas que guardam no rijo e imaculado seio secreta: luzes do fundo do oceano, e<br />

místicas ametistas, sensuais cornalinas, topázios cheios de sol, e camafeus mais<br />

polidos e trabalhados que um verso de Virgílio. Mas a todo esse refulgir da ardente e<br />

rica pedraria, sobrelevava-se o fulgor das duas lúcidas pupilas de luz diamantina,<br />

que provocadoramente desafiavam Gabriel para um supremo desvario.<br />

O amante de Ambrosina entrou na loja.<br />

— Deseja alguma cousa?... perguntou-lhe o moço do balcão, a medi-lo com<br />

certo ar desconfiado.<br />

— Aquele broche que está exposto...<br />

— A que broche se refere o senhor?<br />

— Ao de quatro contos, com dois brilhantes..<br />

— É só para ver?...<br />

— Não; é para comprar.<br />

— Pronto!<br />

— Separe-lhe as pedras.<br />

— Separar-lhe as pedras?!.<br />

— Sim; desengaste os dois brilhantes.<br />

— O senhor dessa forma estraga a peça...<br />

— Não faça caso; separe-as.<br />

— Mas...<br />

— Compreendo... Aqui tem o dinheiro.<br />

— Pois não! É um instante!<br />

E o caixeiro, depois de conferir e recolher o pagamento, isolou as duas belas<br />

gemas, que entregou ao comprador juntamente com os engastes e o cofre.<br />

— Está servido, disse; quando precisar de mais jóias...<br />

— Obrigado, resmungou Gabriel, guardando aqueles objetos no bolso do<br />

sobretudo.<br />

E dirigiu-se então a uma casa de armas. Aí comprou um jogo de pistolas de<br />

carregar com bala pela boca. Depois pediu ao armeiro que a carregasse com<br />

pólvora seca, muniu-se de espoletas, e saiu.<br />

Estava a cair de fome. Foi ao Mangini, meteu-se num gabinete reservado, e,<br />

enquanto esperava que lhe servissem o jantar, carregou as duas pistolas com um<br />

brilhante cada uma.<br />

Acabada a refeição, acendeu tranqüilamente um charuto, e seguiu, sem<br />

alterar os passos, para a casa de Ambrosina.<br />

Eram cinco horas da tarde, mas anoitecia já quando ele lá chegou, porque<br />

junho orçava pelo seu meado e viera muito nebuloso esse ano.<br />

— Ainda?! berrou a loureira, ao ver entrar Gabriel. Não lhe disse que não<br />

voltasse sem os brilhantes?! É birra!<br />

— E quem te diz que não te trago?...<br />

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