19.04.2013 Views

A Condessa Vésper - Unama

A Condessa Vésper - Unama

A Condessa Vésper - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

conheço bem aquela cabecinha!... Eugênia é muito orgulhosa; é muito capaz de<br />

deixar-se morrer, sem soltar uma queixa, nem derramar uma lágrima!..."<br />

— Pobre menina! suspirou Genoveva.<br />

— Eu fiquei sufocado com o que me disse o patrão, continuou Alfredo; mas,<br />

nesse mesmo dia, ao visitar D. Eugênia no se quarto, prometi que lhe havia de levar<br />

notícias do Gabriel. Ela, coitadinha! olhou-me com toda a calma e respondeu-me,<br />

sacudindo os ombros indiferentemente: "— Não, não é preciso... ele mora nas<br />

Laranjeiras com Ambrosina". Esta notícia tirou-me a luz dos olhos; não pude dar<br />

mais uma palavra, e cá estou para saber ao certo o que há!<br />

— Pois D. Eugênia não se enganou, disse Genoveva, a olhar tristemente<br />

para a sua saia de paninho preto. É exato! Ambrosina mora com Gabriel...<br />

Alfredo levantou-se de novo para sair.<br />

— Foi uma desgraça!... repisava a viúva do comendador, acompanhando-o<br />

até à porta. Foi uma grande desgraça! Faça o senhor idéia da vida que não levo eu<br />

aqui entre estas quatro paredes!... Então é chegar a noite, meu Deus! fico tão triste,<br />

que me ponho a chorar até dormir. Ando nervosa!... não tenho ânimo de sair da sala<br />

de jantar, onde trabalho! Qualquer rumor faz-me ficar a tremer; ponho-me a cismar<br />

em quanta asneira me vem à cabeça! parece-me que vão aparecer ladrões para me<br />

matarem, ou suponho ver o espectro de meu defunto marido! Fico num estado de<br />

causar dó!<br />

— Tudo isso são nervos, dizia Alfredo.<br />

E aconselhava à Genoveva que todas as noites, antes de dormir, tomasse<br />

água de flor de laranja. Ele havia de aparecer-lhe mais amiúde...<br />

— Venha! venha conversar à noite. Jogaremos a bisca... O senhor é só e<br />

não tem que fazer a essas horas... se há de ficar em casa, a olhar pro tempo, venha<br />

antes para cá dar dois dedos de cavaco. Olhe, venha amanhã!<br />

— Pois sim, prometeu ele, e saiu.<br />

No dia seguinte, voltou à noite.<br />

Genoveva estimou muito esta nova visita. Os dois viúvos conversaram<br />

largamente sobre o passado, falaram de Ambrosina, de Gabriel e de Eugênia.<br />

Alfredo retirou-se às dez e meia, depois de tomar chá com torradas.<br />

A pobre senhora não chorou essa noite e acordou menos nervosa no outro<br />

dia.<br />

Alfredo repetiu a visita; ao fim do mês, já estas se tinham convertido, para<br />

ambos, em um hábito feliz. Genoveva dava-lhe chá todas as noites. Ele mostrava-se<br />

reconhecido a esse galanteria, levava-lhe quase sempre alguma gulodice.<br />

Um dia reparou que Genoveva tinha um pescoço roliço e uns dentes muito<br />

sãos. "— Devia ter sido um mulherão no seu tempo!" considerou ele. E o fato é que,<br />

desde logo, principiou a notar que a viúva estava bem frescalhona. E, sem querer,<br />

demoravam-se os dois a olhar mais expressivamente um para o outro.<br />

Chovia muito uma noite, e às onze horas a tormenta recrudesceu de modo<br />

atroz.<br />

— Foi o diabo esta chuva! dizia Alfredo, a pensar no seu romantismo.<br />

96

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!