19.04.2013 Views

A Condessa Vésper - Unama

A Condessa Vésper - Unama

A Condessa Vésper - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

— Hein?! interrogou ela, correndo para o amante, de braços abertos. Não<br />

estás gracejando?...<br />

Ele mostrou o estojo.<br />

— Meu amor! Oh! deixa ver! Dá-me! dá-me cá!<br />

E Ambrosina beijava o infeliz, a bater palmas, a rir e a saltar numa alegria<br />

igual às dos seus melhores tempos do passado.<br />

— Prepara então o teu colo... exigiu Gabriel. Quero-o nu, todo nu!<br />

Ela, num gesto rápido e frenético, rasgou o corpete do vestido, patenteando<br />

os infecundos e carnudos peitos.<br />

— Agora, bem! dá-me o teu lenço... acrescentou ele.<br />

— Meu lenço?... Aí o tens... Para quê?...<br />

— Espera... É uma fantasia... Deixa vendar-te os olhos...<br />

Ambrosina submeteu-se, com arrepios de gozo, a perguntar se o broche<br />

então armava também em colar.<br />

— Sim, respondeu o amante, empunhando as pistolas, que já tinha<br />

engatilhado. E quero que só o vejas defronte ao espelho... com os teus brilhantes no<br />

colo.<br />

— Pronto! disse ela afinal, de olhos vendados.<br />

Gabriel, fazendo-lhe pontaria sobre os peitos clamou:<br />

— Aí os tens, demônio!<br />

E disparou ao mesmo tempo as duas armas.<br />

Ambrosina, soltando um gemido, caiu de costas, banhada em sangue.<br />

Semanas depois, recebia Gabriel na casa de Detenção a visita da mãe do<br />

finado cocheiro Jorge. De todos os seus conhecidos, foi essa, foi a velhinha<br />

Benedita, a única pessoa que se lembrou de ir vê-lo.<br />

E a pobre de Cristo estava cada vez mais engelhadinha, mais seca e mais<br />

curvada, e também mais agarrada à vida, sempre com um terrível medo de morrer, e<br />

sempre a terminar os seus intermináveis aranzéis com o grato provérbio: "Viva a<br />

galinha com a sua pevide!"<br />

Foi ela a encarregada pelo assassino de Ambrosina de trazer-nos o<br />

manuscrito e a carta de que falamos no começo deste livro, e foi ela igualmente<br />

quem nos informou mais tarde de que o infeliz preso, no dia em que tinha de<br />

embarcar para Fernando de Noronha, a cumprir sentença de galés perpétuas,<br />

aparecera morto na prisão, conservando ainda cravada no peito a arma com que se<br />

arrancara do mundo, um belo punhalzinho de cabo de marfim com incrustações de<br />

ouro, entre as quais se lia o nome de Violante.<br />

FIM<br />

235

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!