O livro Urgente Da Politica Brasileira
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como uma reunião de condomínio: aqueles que participam tem alguma voz sobre as decisões mesmo que a sua<br />
influência individual seja limitada, enquanto que os ausentes devem acatar e seguir as decisões tomadas,<br />
inclusive os aumentos no preço das mensalidades. Como diz o ditado: “os ausentes nunca têm razão”; a ausência<br />
invalida qualquer razão que poderia haver com eles.<br />
“Quem não se ocupa de política já tomou a decisão política de que gostaria de se ter poupado: serve ao partido<br />
dominante.”<br />
Max Frisch (1911 - 1991), escritor suíço<br />
“Neutro é quem já se decidiu pelo mais forte.”<br />
Max Weber (1864 - 1920), sociólogo e filósofo alemão<br />
E enquanto falamos mal daqueles homens e mulheres que formam a nossa “classe política”, nos esquecemos de<br />
que de certa forma todos nós somos políticos e todas as críticas direcionadas a eles podem ser repetidas a<br />
diversos segmentos da sociedade. Numa democracia, uma “classe política” de moral duvidosa com certeza não se<br />
originou de uma sociedade virtuosa e certamente não desceu aqui num disco voador vinda de outro planeta. Os<br />
nossos políticos espelham a nossa sociedade e aí se deve fazer uma autocrítica sincera: é surpreendente que uma<br />
sociedade cheia de vícios produza uma “classe política” moralmente corrupta?<br />
E aí então encontramos uma situação paradoxal, preocupante, ao constatar que chegamos num ponto em que a<br />
“pessoa de bem” é aquela que não se mete nos assuntos “políticos”, não se candidata ou faz parte de algum<br />
governo, enquanto que numa sociedade saudável a preocupação com a coletividade e em participar da vida da<br />
comunidade deveria ser uma atitude elogiosa, talvez uma das atividades mais nobres da existência humana.<br />
Qual o problema, então?<br />
O problema do brasileiro, portanto, não é falta de interesse sobre o assunto; o maior problema na discussão<br />
política no Brasil, na minha opinião, é a qualidade e a forma desta discussão. Notam-se os seguintes fatos:<br />
1) Uma grande falta de conhecimento do assunto que impede as pessoas de argumentarem com propriedade.<br />
Boa parte da discussão política no Brasil acontece quase como numa discussão filosófica de mesa de bar: gira em<br />
torno de críticas a governos e políticos, repetição acéfala de bordões e slogans ideológicos, reprodução de<br />
“propaganda” política e trocas de acusações de crimes e corrupções baseadas em fatos retirados de revistas e<br />
jornais, muitas vezes tendenciosos.<br />
2) O brasileiro não distingue “política” de “política partidária”. Esta última é importante e faz parte da primeira,<br />
mas é vista com desconfiança pelas pessoas. A política de maneira mais geral vai muito além da partidária, e é<br />
esta a política pela qual todos nós temos responsabilidade como cidadãos.<br />
3) A visão que as pessoas têm que discutir política significa convencer o outro da sua posição, assemelhando-se a<br />
uma competição de quem consegue convencer o outro sem ao mesmo tempo ceder as suas próprias convicções.<br />
Discutir política não é discutir futebol: você até pode ter um partido de sua preferência assim como você tem um<br />
clube de futebol do coração. Mas lembre-se: ao final do “campeonato” político toda a sociedade irá ganhar ou<br />
perder juntos (podendo haver exceções).<br />
Veremos mais adiante sobre como melhorar esta situação. Mas no momento é importante enfatizar para o leitor<br />
dois conceitos que serão fundamentais ao longo da leitura deste <strong>livro</strong>.<br />
O primeiro é que a política não é uma ciência exata, em que é possível ter respostas definitivas e rotular as ideias<br />
e pessoas. Política não é em preto e branco, mas em tons de cinza, muitas vezes embaçados e borrados. O leitor<br />
deve fazer as pazes com este fato, principalmente aqueles acostumados aos números e às definições<br />
contundentes.<br />
“A política não é uma ciência exata, mas uma arte.”<br />
Otto von Bismarck (1815 - 1898), estadista alemão