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O livro Urgente Da Politica Brasileira

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que fatores externos prejudiquem esta igualdade, como quando pessoas com elevado poder econômico, político<br />

ou social conseguem vantagens do Estado em detrimento do resto da sociedade.<br />

Já a igualdade política foi conseguida até a primeira metade do século XX, quando os países de democracias<br />

liberais aprovaram o voto para as mulheres, os analfabetos e os pobres e suspenderam barreiras de propriedade<br />

e renda para que alguém pudesse concorrer a um cargo eletivo. Além disso, ficou consagrado que cada eleitor<br />

tem direito a um voto e que todos os votos têm o mesmo valor, independentemente da renda ou do nível de<br />

educação do eleitor. Novamente, esta é uma concepção formal da igualdade, e não há como o Estado impedir<br />

que as pessoas usem suas conexões pessoais, status social ou riqueza para ter mais influência política do que<br />

outras pessoas.<br />

A promoção da igualdade social - que significa igualdade em riqueza, educação e status - é um tema mais<br />

controverso. Muitos até questionam se é uma tarefa legítima do Estado promover a igualdade social e se os<br />

custos decorrentes desta tarefa devem ser compartilhados por toda a sociedade. Os gastos governamentais para<br />

programas sociais são muito mais questionados do que outras despesas, não somente pelo custo deles, mas<br />

muito mais por motivações de princípios, pois a questão chave em pauta é o papel do Estado na redistribuição de<br />

riqueza dos mais ricos para os mais pobres. A promoção da igualdade em muitos países já é uma realidade de<br />

muitas décadas e os governos europeus foram os pioneiros em criar extensos programas para ajudar os mais<br />

pobres, o que acabou consolidando-se no “Estado de bem-estar social”.<br />

Pode-se argumentar que só é possível atingir as igualdades jurídicas e políticas de maneira substancial – ou seja,<br />

na prática - quando existe certo nível de igualdade social; enquanto existirem grandes desníveis de status,<br />

educação e poder econômico, haverá um desequilíbrio nestas esferas.<br />

A diferença fundamental entre as igualdades jurídicas e políticas e a promoção da igualdade social é que esta<br />

última não pode ser meramente formal ou procedimental, ela deve ser substancial. Para esta igualdade, não<br />

basta uma lei decretando que todos são iguais; é preciso alguma ação do Estado no sentido de garantir que as<br />

pessoas efetivamente sejam iguais. Para este propósito podem-se verificar dois caminhos para a promoção da<br />

igualdade social: a igualdade de oportunidades e a igualdade de resultados.<br />

A igualdade de oportunidades é a ideia de que cada pessoa deve ter as mesmas chances de ser bem sucedida na<br />

vida. Assim, entende-se que se as pessoas não têm privilégios de nascimento (como títulos de nobreza), se não<br />

são exigidas propriedades ou renda para votar ou se eleger a um cargo eletivo ou mesmo para ocupar um cargo<br />

no governo e se as escolas e bibliotecas públicas atendem a todos com a mesma qualidade, então as condições<br />

para a igualdade de oportunidades estariam atendidas. Neste caso não há problema se as pessoas conseguem<br />

resultados diferentes, pois as condições iniciais foram similares e os resultados diferentes são mero reflexo dos<br />

talentos e dedicações individuais.<br />

Já a igualdade de resultados é a ideia de que a sociedade deve garantir que as pessoas sejam iguais, e o governo<br />

deve promover políticas públicas que redistribuam a riqueza e igualem as condições sociais para que a igualdade<br />

seja atingida. Por esta ideia entende-se que o governo deve ativamente promover a igualdade material por meio<br />

de políticas públicas e leis que atenuem os fatores externos que prejudicam alguns segmentos da sociedade,<br />

como as discriminações de origem social, racial, de gênero, de origem nacional, de qualidade da educação<br />

recebida, entre outros. Alguns exemplos de políticas públicas neste sentido são as de ações afirmativas, como<br />

cotas nas universidades públicas ou para a contratação de funcionários públicos. O governo também pode, por<br />

meio de leis, incentivar o setor privado a contratar pessoas de diferentes gêneros e raças ou de pessoas<br />

portadoras de necessidades especiais, ou ainda que obriguem ao pagamento do mesmo salário para homens e<br />

mulheres que executam trabalhos iguais.<br />

Estas políticas públicas de ações afirmativas são bastante controversas, pois implicam atribuir algum tipo de<br />

reserva ou vantagem a certos segmentos da sociedade. Mas apesar do escrutínio destas políticas, do ponto de<br />

vista legal elas têm obtido sucesso nos julgamentos de cortes constitucionais pelo mundo, incluindo nos Estados<br />

Unidos e no Brasil.

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