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O livro Urgente Da Politica Brasileira

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Mas praticar política passa necessariamente por discussões, debates, tentativas de convencimento e soluções de<br />

compromisso. Esta é a própria razão de ser da política. Os melhores políticos são aqueles que conseguem<br />

conciliar interesses, promover a cooperação de grupos que são a princípio antagônicos e usar a retórica para<br />

promover a cooperação e a união. Nunca houve, e provavelmente nunca haverá, época sem algum tipo de<br />

conflito político: ele é inerente à sociedade e à condição humana. Junte um pequeno grupo de pessoas e<br />

eventualmente haverá conflito; imagine um grupo do tamanho de nossas sociedades? A política de sucesso é<br />

aquela que consegue conciliar e gerenciar estes conflitos sem transformá-lo num confronto, como revoluções,<br />

golpes e guerras.<br />

Infelizmente a discussão política no Brasil de hoje está muito pobre. Não somente pela falta de conhecimento da<br />

maioria das pessoas, mas também pela intolerância e pela radicalização; elas têm pressa em desqualificar o<br />

argumento do outro sem analisar a sua fundamentação. Muitas pessoas criaram a ideia de que suas ideologias<br />

são baseadas no amor e na preocupação com o próximo, enquanto que a do adversário é movida pelo ódio e pelo<br />

oportunismo; quem pensa diferente é visto como mal-intencionado ou a serviço de alguma causa obscura. As<br />

pessoas perderam a noção básica de que o adversário político tem uma posição distinta, porém legítima, e que<br />

alguns pontos de sua argumentação podem ser bons e até serem usados para melhorar as suas próprias<br />

propostas.<br />

Ao invés de querer eliminar o adversário, muitas vezes chamado de inimigo, o verdadeiro democrata reconhece a<br />

importância das diferentes ideias no cenário político e por mais que não concorde com um determinado<br />

pensamento, defenderá que haja espaço para sua expressão. Não faz sentido defender a democracia e querer<br />

eliminar do cenário as ideias que o desagradam. Mas lembre-se que política não é sinônimo de consenso e nem<br />

unanimidade; estes são muito difíceis de conseguir. Na maioria das vezes, os acordos políticos são soluções de<br />

compromisso, em que ambas as partes cedem um pouco para conseguirem algo próximo ao que desejavam.<br />

Para que a política funcione, portanto, é necessário conversar. Mas há diferentes formas de conversa: existem as<br />

discussões ou debates, em que cada um tenta convencer o outro de suas ideias, e existe a dialética, em que as<br />

ideias opostas são sintetizadas para tentar se chegar à melhor “verdade” possível.<br />

O processo da dialética coloca em pauta uma ideia como uma tese, a sua ideia oposta como uma antítese. <strong>Da</strong><br />

união da tese e da antítese cria-se a síntese, que em teoria é uma ideia melhor que as iniciais e mais próxima da<br />

“verdade”. Por sua vez, a síntese pode virar uma nova tese que quando colocada à frente de uma nova antítese<br />

resulta em uma nova síntese, e assim por diante, num processo de iterações intermináveis que produzem ideias<br />

mais maduras do que as iniciais.<br />

Neste sentido, não adianta conversar apenas com pessoas que pensam como você, pois não aprenderá nada de<br />

novo. Se quiser evoluir nas suas visões políticas ou colocá-las à prova, procure alguém de sua confiança que pense<br />

diferente, mas de forma centrada e racional, e proponha uma dialética. No final provavelmente ambos<br />

descobrirão que o outro defendia alguns pontos bons e que nem tudo em que se acreditava era tão verdadeiro<br />

assim. Se democracia é uma espécie de síntese, então a dialética é o meio pelo qual a fortalecemos.<br />

19.7. SABER LIDAR COM AS MÍDIAS TRADICIONAIS<br />

“A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o<br />

que lhe mal fazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe<br />

alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que<br />

ameaça.”<br />

Rui Barbosa (1849 - 1923), político e jurista brasileiro<br />

“A opinião pública é sujeita à moda, e tem ordinariamente a mesma consistência e duração que as modas.”<br />

Marquês de Maricá (1773 – 1848), filósofo e político brasileiro<br />

“Na terra de cegos, quem tem um olho é rei.”<br />

Erasmo de Roterdão (1466 – 1536), teólogo e humanista holandês

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