O livro Urgente Da Politica Brasileira
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impostos e contra os interesses da maior parte da sociedade. Um governo que prega o dirigismo econômico, ou<br />
seja, a intervenção do Estado em favor de setores produtivos identificados como os mais importantes, é<br />
especialmente susceptível a este tipo de relação.<br />
Estas relações clientelistas podem tomar diversas formas e estão constantemente nos noticiários: favoritismo na<br />
distribuição de autorizações legais e concessões, empréstimos subsidiados pelo erário (muitas vezes captados<br />
pelo governo a juros altos e emprestados a juros muito baixos), regulamentações mais restritivas para dificultar a<br />
entrada de concorrentes no mercado, perdões e refinanciamentos de dívidas e incentivos fiscais. Destes, os<br />
incentivos fiscais talvez sejam os mais difíceis de identificar e quantificar, pois é dinheiro de impostos que não<br />
entra nas receitas do governo e depois não fazem parte do orçamento público, ou seja, são de certa forma<br />
benefícios “invisíveis”. Muitas dessas decisões são aprovadas no Congresso Nacional em "jabutis", que são<br />
emendas inseridas em propostas de lei que tratam de um assunto totalmente diferente, e que acabam sendo<br />
“disfarçadamente” aprovadas junto com o texto original.<br />
Mas o exemplo mais contundente desta relação é quando o governo usa o dinheiro arrecadado de impostos para<br />
salvar da falência grandes empresas e bancos com a justificativa de salvar empregos. Realmente, alguns<br />
empregos são salvos no curto prazo, mas esta ajuda não resolve os problemas que levaram a empresa a tal<br />
situação, como, por exemplo, uma má administração ou decisões excessivamente arriscadas. Enquanto num livre<br />
mercado estas empresas deveriam realmente falir e abrir espaço para novas empresas mais eficientes, com esta<br />
atitude o governo passa o recado aos grandes empresários que eles podem assumir riscos pouco razoáveis ou<br />
conviver com uma administração ineficiente, pois eventualmente o governo irá socorrê-los com dinheiro público.<br />
Bancos que entram em investimento de alto risco, mas com alto potencial de retorno ficam com o lucro quando a<br />
aposta dá certo; mas quando o investimento dá errado o dinheiro do governo irá salvá-los. Ou seja: lucros<br />
privatizados e prejuízos socializados!<br />
Este “capitalismo de amigos” na prática funciona como uma espécie de programa de distribuição de renda<br />
invertido. Os impostos coletados de toda a sociedade, inclusive dos mais pobres, são usados para subsidiar o<br />
aumento de capital de pequenos grupos que já estão no topo da pirâmide social. Os verdadeiros programas de<br />
distribuição de renda usam os impostos coletados de toda a sociedade para distribuir pequenos benefícios entre<br />
milhões de necessitados. Enquanto isso, a classe média não está na ponta recebedora de nenhum destes<br />
programas, mas paga pelos dois. Ou seja, o Estado promove uma espécie de programa de “Bem-Estar<br />
Corporativo”!<br />
Enquanto esta relação clientelista em curto prazo prejudica somente o consumidor e o pagador de impostos, em<br />
longo prazo corrói a democracia e os ideais de bem público, pois permite cada vez mais que os interesses de<br />
grupos econômicos bem conectados influam nas decisões políticas que deveriam ser tomadas para o bem da<br />
sociedade como um todo.<br />
#FICAADICA: Fique esperto para não cair em propagandas políticas. É muito importante deixar claro que nenhum<br />
pensamento político defende o “capitalismo de amigos”, nem da esquerda e nem da direita. Os políticos que<br />
agem em sua defesa são simplesmente desonestos e inescrupulosos. O “capitalismo de amigos” é praticado por<br />
políticos de todas as posições políticas, às vezes unindo-os em torno de uma causa de forma tão cooperativa que<br />
raramente vê-se repetir quando o assunto é de interesse da população. Portanto, atente-se para não ser<br />
enganado pela propaganda política: a esquerda acusa a direita, tentando associar estas práticas com o livre<br />
mercado, que como acabamos de ver, defende exatamente o oposto do que é o “capitalismo de amigos”;<br />
enquanto isso a direita acusa a esquerda de usar o controle econômico do Estado para beneficiar amigos e<br />
aliados. Mas lembre-se: nem a direita e nem a esquerda defendem estas práticas, mas sim os políticos que se<br />
beneficiam dela, independente da sua vertente política.#<br />
Infelizmente o “capitalismo fisiológico” é muito forte no Brasil. Rotineiramente há nos noticiários denúncias de<br />
políticos que aceitam subornos em troca de leis e medidas que beneficiem grupos de interesse econômico,<br />
inclusive com o uso de recursos públicos, ou de “jabutis” aprovados em qualquer lei que perdoam dívidas e<br />
multas ou criam isenções fiscais. A tradição de políticas econômicas intervencionistas auxilia a disfarçar estas