O livro Urgente Da Politica Brasileira
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mas desvia a atenção de outros debates essenciais. Enquanto partidários e políticos de cada partido concentramse<br />
em provar que o adversário é mais corrupto e o seu candidato é a pessoa mais honesta que existe, numa<br />
batalha sem fim de acusações e denúncias, ninguém se lembra de discutir as políticas públicas, as propostas para<br />
a economia, as reformas necessárias ou os planos de longo prazo para o Estado.<br />
Ainda, a corrupção acaba afastando muitas pessoas da política. Muitos até batem no peito e dizem com orgulho<br />
que não se interessam por política, por esta estar no âmbito de corruptos e malfeitores, embora esta afirmação<br />
não seja desculpa para se alienar dos assuntos políticos. Muitos brasileiros até tem uma relação ambígua sobre o<br />
assunto: ao mesmo tempo em que condenam a corrupção de políticos e partidos aos quais são contrários, estão<br />
dispostos a fazer vistas grossas ou justificar os malfeitos daqueles pelos quais nutrem simpatia, num verdadeiro<br />
contorcionismo ético. Há ainda aqueles que encaram a corrupção política como algo normal e não veem<br />
problemas em apoiar o político que “rouba, mas faz”.<br />
A corrupção no Brasil é endêmica, ou seja, não está concentrada em algum canto da administração pública ou é<br />
exclusividade de algum partido. Ela está espalhada nas instituições do Estado, nas empresas privadas e nas<br />
pessoas de nossa sociedade. Lembre-se que as práticas corruptas também ocorrem no setor privado, e, portanto,<br />
não são exclusividade do setor público.<br />
A corrupção gera enormes prejuízos para o país: econômicos, institucionais, políticos e sociais. Quase sempre os<br />
países mais corruptos têm crescimento econômico lento, instituições governamentais fracas, ambiente político<br />
instável e graves problemas sociais, e estes são problemas que os brasileiros estão bem familiarizados.<br />
Entretanto, a corrupção não é somente fruto da impunidade, mas também sintoma de uma cultura de<br />
desrespeito às leis e às regras, que sempre acha uma desculpa ou justificativa para não segui-las quando é<br />
conveniente. <strong>Da</strong>s regras mais simples, como respeitar as vagas de estacionamento para idosos e deficientes, às<br />
infrações mais graves, como fazer ligações clandestinas de água, energia elétrica e televisão a cabo, pagar um<br />
suborno para pegar atalhos na obtenção da carteira de motorista ou até mesmo vender o voto, sempre existe<br />
uma justificativa para o desvio da conduta pessoal ao mesmo tempo em que se exige dos outros o cumprimento<br />
das regras. Uma justificativa muito comum é que alguma ação não é para benefício próprio, mas para familiares e<br />
amigos, mesmo quando toda a sociedade sai perdendo.<br />
É surpreendente que uma sociedade em que muitos consideram aceitável o desvio das leis e das regras mais<br />
simples e óbvias origine empresas que sonegam impostos e políticos que desviam dinheiro público? Acho que<br />
não. É claro que se deve considerar a proporção dos desvios: furar a fila da padaria não traz grandes prejuízos<br />
para a sociedade e nem se tornará um caso de polícia, enquanto que o desvio de milhões em obras públicas não<br />
finalizadas causa enormes prejuízos para toda a sociedade; a própria Justiça reconhece esta proporcionalidade,<br />
ao prever penas proporcionais à gravidade dos crimes.<br />
O problema da corrupção política no Brasil é antes de tudo fruto de nossa cultura, nossa maneira de enxergar o<br />
mundo e de como nos relacionamos com o resto da sociedade. É na mudança cultural da sociedade que está a<br />
solução de longo prazo para a crise moral que vivemos na política.<br />
9.1. TIPOS DE CORRUPÇÃO<br />
“Em meio a um povo geralmente corrupto, a liberdade não pode existir por muito tempo.”<br />
Edmund Burke (1729 - 1797), filósofo e estadista irlandês<br />
“Nossas grandes democracias ainda tendem a pensar que um homem estúpido é mais provavelmente honesto do<br />
que um homem inteligente, e nossos políticos tirar vantagem deste preconceito fingindo que eles são ainda mais<br />
estúpidos do que a natureza os fez.”<br />
Bertrand Russell (1872 – 1970), filósofo e ativista político britânico<br />
Mas afinal de contas, o que é corrupção política? Desvios de verbas e uso indevido de bens públicos são exemplos<br />
óbvios, mas existem muitos outros. Alguns tipos de corrupção política estão tão arraigados na cultura do<br />
brasileiro que muitos o praticam com a maior naturalidade, sem se dar conta de que são atos de corrupção nada