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O livro Urgente Da Politica Brasileira

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mercado em diversos setores e privatizou algumas empresas estatais, além de outras medidas em direção a um<br />

liberalismo econômico, mas que nunca chegou perto de transformar a economia nacional num capitalismo liberal.<br />

Apesar disso, o liberalismo econômico continua sendo um assunto “maldito” no Brasil, não somente pelos seus<br />

opositores políticos, mas também por muitos economistas brasileiros. Esta é uma situação infeliz, pois se perde a<br />

oportunidade de debater a economia num panorama mais amplo e rico e as pessoas perdem a oportunidade de<br />

formar uma opinião sobre o assunto mais bem embasada pela exposição de diferentes ideias.<br />

Os seus críticos argumentam que uma economia liberal gera maiores índices de miséria e desigualdades sociais,<br />

principalmente para aqueles que não têm qualificação suficiente para participar da economia e acabam<br />

tornando-se excluídos. Também criticam o pequeno escopo de serviços públicos, que faria com que pessoas sem<br />

condições de buscá-las na iniciativa privada fiquem descobertas, e a baixa regulação das relações de trabalho que<br />

deixariam os trabalhadores mais vulneráveis nas negociações com os empregadores. Uma economia de mercado<br />

também tenderia a gerar monopólios e oligopólios com o tempo, prejudicando a sociedade. Além disso, o<br />

liberalismo econômico seria avesso a programas sociais e políticas públicas voltadas aos mais necessitados, o que<br />

não é sempre verdade pois existem vertentes do liberalismo que acolhem esta ideia.<br />

Outra crítica comum ao liberalismo econômico é que o livre mercado e o livre comércio são muitas vezes<br />

impostos à países pobres por instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI)<br />

e o Banco Mundial, como condição para a liberação de empréstimos. O problema é que alguns destes países<br />

poderiam preferir ou entendem que medidas protecionistas ou de reserva de mercado são necessárias para o<br />

desenvolvimento de suas capacidades produtivas, apesar dos países desenvolvidos que controlam estas<br />

instituições promoverem o liberalismo econômico como um caminho certo para o desenvolvimento. No entanto,<br />

há uma incoerência neste discurso, pois praticamente todos os países desenvolvidos de hoje foram protecionistas<br />

no passado e somente adotaram o livre comércio após suas indústrias estarem maduras e competitivas.<br />

Para os seus defensores, o liberalismo econômico proporciona maiores índices de crescimento econômico e uma<br />

economia mais dinâmica, que gera mais empregos e com melhores salários, ao custo de menores garantias e<br />

direitos trabalhistas. Para os liberais, a melhor forma de combater a miséria e a desigualdade social é com um<br />

robusto crescimento econômico que seja capaz de garantir mais opções de trabalho e salários cada vez melhores<br />

à população, e não por meio de programas sociais com a simples distribuição de recursos. Entretanto, o<br />

liberalismo econômico aceita alguma forma de rede de segurança social que pode ser acionada pelas pessoas<br />

como um último recurso para evitar uma situação de vulnerabilidade social. Os liberais acreditam que eventuais<br />

desequilíbrios sociais gerados no curto prazo pela ausência de intervenção do Estado serão solucionados pelo<br />

mercado no médio e longo prazos – o que ainda não foi comprovado em uma situação real. Quanto à tendência<br />

de formação de monopólios e oligopólios, os seus próprios teóricos reconhecem este problema e defendem a<br />

ação do Estado como garantidor da livre concorrência.<br />

3.4. CAPITALISMO FISIOLÓGICO<br />

“Pessoas da mesma profissão raramente se encontram, mesmo para festejos e diversões, mas a conversa termina<br />

em uma conspiração contra o interesse público, ou em alguma ideia para aumentar os preços.”<br />

Adam Smith (1723 – 1790), economista escocês<br />

Em qualquer economia existe o risco da democracia ser enfraquecida pelo uso indevido do poder econômico. É o<br />

que ocorre no "capitalismo fisiológico", também conhecido como "capitalismo de amigos" ou "capitalismo<br />

clientelista", gerado como o filho bastardo de uma "democracia desonrada" com um "capitalismo sujo". Estes<br />

termos descrevem uma economia em que o sucesso nos negócios depende de uma relação íntima entre os<br />

empresários e as autoridades do governo. É muito importante o leitor entender este conceito, pois este<br />

fenômeno tem raízes profundas no Brasil e explica muito da nossa miséria política e do comportamento de<br />

nossos políticos.<br />

No capitalismo fisiológico os setores econômicos politicamente bem conectados (geralmente organizados na<br />

forma de oligarquias) conseguem diversas vantagens do governo, normalmente à custa dos pagadores de

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