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O livro Urgente Da Politica Brasileira

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uins continuem sendo reeleitos pelos motivos errados. Os eleitores devem compreender a sua parcela de culpa<br />

no processo, afinal só eles detêm o voto sem o qual o político não sobrevive. Político sem voto é como planta<br />

sem água: seca e morre. Ao mesmo tempo, deve-se reconhecer que a baixa qualidade das opções existentes,<br />

com programas de governo genéricos e pouca informação sobre os candidatos, dificultam enormemente o<br />

trabalho do eleitor: é como ir a um supermercado e encontrar na prateleira apenas produtos ruins e sem<br />

etiquetas com informações relevantes, e ser obrigado a escolher e levar um para casa.<br />

Talvez a atitude mais imoral que um eleitor possa tomar é vender o seu voto. Muita gente ainda vende o seu voto<br />

por dinheiro, vantagens ou favores, mas nem sempre é assim. Muitas vezes pessoas com alguma ascendência na<br />

comunidade – como líderes comunitários e religiosos ou alguém muito popular - vendem o seu apoio político a<br />

algum candidato e induzem as pessoas a votar nele. É claro que não é possível garantir que todos votarão no<br />

candidato que comprou os votos – o que já é esperado pelo político -, mas quase sempre uma grande parcela dos<br />

eleitores acata a recomendação, mesmo não ganhando nada em particular. Enquanto isso, estes cabos eleitorais<br />

recebem dinheiro ou outra vantagem, como um cargo na futura administração ou no gabinete do político – caso<br />

tenha sido eleito.<br />

Outra atitude reprovável dos eleitores é votar nos candidatos por motivos nada racionais, como aparência, fama,<br />

dons artísticos, origem humilde e assim por diante; o ex-presidente Fernando Collor ganhou muitos votos por ser<br />

considerado jovem e bonito. Uma variação é votar em políticos exatamente porque eles não são políticos!<br />

Esportistas e artistas ganham proeminência justamente por não serem “políticos”, adjetivo essencial para a vida<br />

pública mas que ultimamente virou motivo de desqualificação, pela culpa dos próprios políticos que<br />

frequentemente não se comportam de maneira honrada em seus cargos eletivos. No final das contas, quantos<br />

políticos estão nos Parlamentos e nos Executivos locais e que não tem preparo para participar da administração<br />

pública?<br />

Votar também é mais difícil quando se deixa a escolha para a última hora. Além de não ter tempo para pesquisar<br />

a vida do candidato e o seu histórico político, o eleitor fica mais susceptível a escolher o candidato que aparece<br />

mais em propagandas – espalhou mais santinhos pelas ruas e pendurou mais fotos nos postes – que geralmente é<br />

o candidato mais enrolado em dívidas para pagar após a eleição. Além disso, a pessoa fica mais propensa a<br />

esquecer em quem votou e a não acompanhar as atividades do candidato eleito.<br />

No Brasil também é muito comum as pessoas personalizarem o voto. Os eleitores votam em candidatos e se<br />

esquecem de que ele faz parte de um partido que defende algum pensamento político – ou nenhum, como no<br />

caso dos partidos de aluguel - e que estão aliados a outros políticos e partidos que podem ser do desagrado do<br />

eleitor. Esta cultura eleitoral tem motivos históricos: antigamente os partidos brasileiros eram bastante fracos e<br />

os políticos eleitos tinham muita liberdade de ação, criando um desprezo aos partidos na hora do voto. Mas hoje<br />

em dia não é bem assim: políticos eleitos para os Parlamentos têm uma espécie de chefe, que é o líder do partido<br />

na Casa legislativa, e quase sempre - mas nem sempre - o político vota como o seu partido manda, ao risco de<br />

sofrer retaliações. Portanto, não importa o que o candidato prometeu durante as eleições se na hora das<br />

votações no Parlamento a vontade do partido tende a prevalecer. É claro que o grau de liberdade do político varia<br />

conforme o partido e com o tema em votação: para alguns temas os partidos deixam os seus políticos livres para<br />

votarem como quiserem.<br />

Um efeito colateral deste personalismo na hora do voto é a excessiva fragmentação política nos Parlamentos. A<br />

Câmara dos Deputados no início da legislatura de 2014-2018 contava com 28 partidos sendo representados, mas<br />

é difícil imaginar que existam 28 propostas diferentes de plano de governo sendo representados. Uma parte<br />

destes partidos não tem posição ideológica definida e apenas planos de governo genéricos, mas conseguem<br />

eleger representantes pela falta de ligação entre os eleitores e os partidos.<br />

Outro erro comum dos eleitores é apoiar um candidato ao Executivo e ao mesmo tempo votar num candidato do<br />

partido opositor para o Legislativo. Como já vimos anteriormente, o Poder Executivo depende do Legislativo para<br />

uma série de assuntos e um governo fica enormemente prejudicado quando o Legislativo é dominado por seus

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