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Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch

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Ao mesmo tempo em que acariciava os nazistas alemães, Perón presenteava os<br />

trabalhadores com diversos direitos. Construiu com eles uma relação de dependência e<br />

adoração. Como Getúlio Vargas e outros líderes latino-americanos da época, incorporou<br />

o 13o salário, estabeleceu as folgas semanais, aperfeiçoou o sistema de assistência<br />

social, aumentou salários e reduziu as jornadas de trabalho. Eram propostas que já<br />

vinham sendo defendidas por socialistas e comunistas, mas que empacaram e depois<br />

retornaram com o carimbo do novo líder.<br />

Por que Perón fez tudo isso? Seria porque tinha como objetivo legítimo o bem do<br />

povo? Era um socialista sonhador, sensibilizado com a exploração capitalista do homem<br />

pelo homem, como acreditam ainda hoje muitos argentinos? Foi assim que ele justificou<br />

sua ajuda aos trabalhadores em um discurso proferido em agosto de 1944, em frente à<br />

Bolsa de Valores de Buenos Aires:<br />

Essas classes trabalhadoras que estão melhor organizadas são, sem dúvida, as que são mais facilmente lideradas.<br />

É bom ter essas forças orgânicas que se pode controlar e dirigir, em vez das inorgânicas que escapam à direção e ao<br />

controle.<br />

Meus queridos capitalistas! Não se assustem com o movimento trabalhista! O capitalismo nunca esteve tão seguro,<br />

porque eu também sou capitalista. Eu tenho um rancho, e há trabalhadores nele. O que eu quero é organizar os<br />

trabalhadores para que o Estado possa controlá-los e determinar regras para eles, neutralizando em seus corações as<br />

paixões ideológicas e revolucionárias que podem colocar em perigo nossa sociedade capitalista pós-guerra. Mas os<br />

trabalhadores só serão facilmente manipulados se nós dermos a eles alguns benefícios. 246<br />

A Revolução Francesa patenteou o termo sans-culotte (sem calção). Os argentinos criaram os descamisados. Em<br />

1945, diante da Casa Rosada, onde Perón era mantido preso, os homens, suados, tiraram suas camisas. Surgiram, assim,<br />

os “descamisados”, palavra que depois se tornaria sinônimo dos peronistas. O ex-presidente brasileiro Fernando Collor<br />

aproveitou a ideia em 1989, quando se declarou o candidato dos descamisados.<br />

Em 1945, quando também assumiu a vice-presidência e o Ministério da Guerra, Perón<br />

criou uma lei semelhante ao código do trabalho de Mussolini, estabelecendo que nenhum<br />

sindicato que não tivesse o reconhecimento oficial poderia existir. Cada ramo industrial<br />

só poderia ter um sindicato. O governo passou então a reconhecer uma única<br />

organização, peronista, por setor. Greves e paralisações foram proibidas. Se um<br />

sindicalista se desviasse no meio do caminho, perderia o reconhecimento do governo e<br />

teria as finanças cortadas. Nesse mesmo ano, o embaixador americano Spruille Braden,<br />

revoltado com o namoro da Argentina com os nazistas, iniciou uma campanha contra<br />

Perón, unindo liberais, comunistas, conservadores, socialistas, fazendeiros e<br />

empresários. 247 No dia 19 de setembro, centenas de milhares de pessoas foram às ruas<br />

para exigir o fim do governo militar, que tomara o poder com um golpe, e pedir novas<br />

eleições. No dia 10 de outubro, Perón renunciou a todos os cargos e foi detido pelos<br />

militares, que também estavam temerosos de sua alta popularidade. Líderes sindicalistas<br />

se mobilizaram para exigir a sua libertação e planejaram uma greve geral. Aconteceu<br />

então o episódio que marcaria a história argentina do século 20. No dia 17, Perón foi<br />

levado a um hospital. Ao saber da notícia, entre 300 mil e 1 milhão de pessoas cercaram<br />

a Casa Rosada para pedir a volta do líder. Após negociar com os militares, Perón<br />

conseguiu sua libertação e apareceu na sacada da Casa Rosada para pronunciar o<br />

discurso que o eternizou:<br />

Dou também meu primeiro abraço a essa massa grandiosa, que representa a síntese de um sentimento que havia morrido

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