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Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch

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avisá-los de que eu não regressaria, que não deviam se preocupar e que não era preciso me enviar uma camisola porque<br />

já tinham me oferecido uma.<br />

Foi a primeira noite em que passaram juntos. Ela então estava com 14 anos. Uma<br />

semana depois, Perón a convidou para assistir a uma luta no Parque Luna Park, em<br />

Buenos Aires, quando os dois apareceram juntos em público. Depois...<br />

Como tudo terminou muito tarde, voltei a dormir na casa do presidente. A terceira vez que fiquei foi por uma causa<br />

fortuita, a chuva, que me obrigou a reincidir. Mas essa foi a definitiva, pois não voltei a dormir na minha casa. Fiquei<br />

vivendo com o general até que ele me abandonou para se refugiar em uma canhoneira paraguaia (1955).<br />

A festa com as secundaristas teve seu preço. Bem alto. Para agradar as jovens, Perón<br />

as presenteou com motos, bicicletas, lambretas e automóveis. Em três anos, a UES<br />

consumiu 10 milhões de dólares, segundo o historiador argentino Hugo Gambini. 273<br />

Com tanta fanfarronice e a economia indo para o buraco, as críticas a Perón<br />

aumentaram. Em 1955, o presidente declarou que “qualquer um, em qualquer lugar, que<br />

tente mudar o sistema contra as autoridades constituídas, ou contra as leis ou a<br />

Constituição, deverá ser morto por qualquer argentino”. E continuou: “Qualquer<br />

peronista deve aplicar essa regra, não apenas contra aqueles que cometem esses atos,<br />

mas também contra aqueles que os inspiram e os incitam”.<br />

Perón prometeu que, para cada peronista que caísse pela causa, outros cinco inimigos<br />

deveriam morrer. 274 Era o desespero de um presidente que já não encontrava conserto<br />

para os problemas que ele mesmo tinha criado. Milícias de esquerda e de direita<br />

ganharam espaço e começaram a vitimar a população civil. Uma delas era baseada na<br />

CGT, a Confederação Geral do Trabalho, centro do peronismo ainda hoje. Logo após a<br />

morte de Evita, a entidade passou a usar o dinheiro dos fundos de ajuda social para<br />

comprar armas.<br />

A situação ficou insustentável, e os militares deram um golpe, obrigando Perón a<br />

viajar para o Paraguai. Depois, foi para Panamá, Venezuela e, por fim, Espanha. Mas as<br />

ideias do presidente deposto seguiram fortes na Argentina. Quase 20 anos depois, nas<br />

eleições de 1973, o peronista Héctor Cámpora foi eleito com 49% dos votos e colocou<br />

em ação um plano para trazer de volta o general de forma definitiva. Nessa época, Perón<br />

vivia em Madri com uma dançarina de cabaré, María Estela Martínez de Perón, ou<br />

Isabelita. O corpo de Evita, embalsamado, dormia no sótão da casa, onde foi montado um<br />

pequeno altar. Dessa maneira, o casal absorvia as energias emanadas pela defunta.<br />

Tratava-se de uma invenção de José López Rega, guarda-costas de Isabelita. Após viajar<br />

a Madri, Rega tornou-se influente na vida dos dois e virou secretário pessoal de Perón.<br />

Conhecido como “el Brujo”, Rega unia astrologia e umbanda com a maçonaria Rosa-<br />

Cruz. Contradizia o chefe em público, interrompia suas conversas e controlava o acesso<br />

ao general. Quando Perón retornou a seu país, López Rega preparou uma recepção nas<br />

proximidades do aeroporto de Ezeiza, para onde acudiram milhares de pessoas. Sob o<br />

comando do secretário de Perón, membros da Juventude Sindical Peronista (JSP)<br />

atiraram contra os montoneros, de esquerda. Treze morreram, baleados ou enforcados nas<br />

árvores. O conflito ficou conhecido como o Massacre de Ezeiza.<br />

267 Hugo Gambini, página 167.

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