Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Venezuela, passaram a ser conhecidos como bons marchadores, pois deixavam os<br />
soldados locais sempre para trás nos grandes deslocamentos de tropas. A Batalha de<br />
Boyacá, ocorrida quando Bolívar entrou na Colômbia e a qual o libertador considerava<br />
“minha mais completa vitória”, foi vencida graças aos ingleses, que também venderam<br />
rifles, pistolas e espadas aos republicanos.<br />
No retorno à Venezuela, quem recebeu Bolívar foi o general José Antonio Páez, que<br />
ajudara a debandar as tropas da metrópole e, três anos depois, se tornaria presidente da<br />
Venezuela. Em sua aula, o professor Marx nos conta então como se dá a entrada<br />
apoteótica do Libertador em Caracas:<br />
De pé sobre um carro triunfal, puxado por 12 jovens vestidas de branco e enfeitadas com as cores nacionais, todas<br />
escolhidas entre as melhores famílias de Caracas, Bolívar, com a cabeça descoberta e uniforme de gala, agitando um<br />
pequeno bastão, foi conduzido por cerca de meia hora, desde a entrada da cidade até sua residência. Proclamando-se<br />
“Diretor e Libertador das Províncias Ocidentais da Venezuela”, criou a “Ordem do Libertador”, formou uma tropa de<br />
elite que denominou de sua guarda pessoal e se cercou da pompa própria de uma corte. Entretanto, como a maioria de<br />
seus compatriotas, ele era avesso a qualquer esforço prolongado, e sua ditadura não tardou a degenerar numa anarquia<br />
militar, na qual os assuntos mais importantes eram deixados nas mãos de favoritos, que arruinavam as finanças públicas<br />
e depois recorriam a meios odiosos para reorganizá-las. 146<br />
Ao ser questionado se não teria exagerado na crítica ao descrever uma pessoa com<br />
tantas conquistas, Marx respondeu o seguinte em uma carta para o camarada Friedrich<br />
Engels:<br />
Seria ultrapassar os limites querer apresentar como Napoleão I o mais covarde, brutal e miserável dos canalhas. 147<br />
Um rei para a América Latina<br />
Em resumo, a aula de Karl Marx sobre Simón Bolívar revela que esse último lhe<br />
suscitara uma imagem nada honrosa. O venezuelano, segundo ele, era covarde, folgado,<br />
egocêntrico, narcisista, inútil como estrategista militar e sempre ávido por acumular<br />
poder. Marx tinha razão? Em alguns pontos, sim. Em outros, é difícil saber.<br />
Principalmente em relação às acusações sobre sua falta de bravura e sua preguiça. Mas<br />
uma análise das atitudes políticas que Bolívar tomava após suas conquistas militares, das<br />
cartas que escreveu, dos discursos e, principalmente, da Constituição que redigiu para a<br />
Bolívia não deixa dúvida com relação às acusações de que ele fez de tudo para acumular<br />
poder. Apesar de ter entrado em contato com conceitos iluministas durante uma viagem à<br />
França e à Inglaterra, essas ideias começaram a se enfraquecer logo após seu retorno até<br />
desaparecerem.<br />
Bolívar, um devorador de livros, leu Jean-Jacques Rousseau, John Locke, Voltaire e<br />
Montesquieu. Do inglês Locke, aprendeu o conceito de que os homens tinham direitos<br />
naturais, como a vida, a propriedade e a liberdade. Do francês Rousseau, sorveu a<br />
necessidade de lutar por liberdade, o que ele interpretou como a urgência do fim do<br />
domínio espanhol. “O homem nasce livre, mas em qualquer lugar está acorrentado”, lia<br />
ele em seu livro de cabeceira Do Contrato Social, de Rousseau. Todos esses autores<br />
exerceram alguma influência sobre o venezuelano no início de sua vida política. Era