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Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch

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Fique tranquilo: essa sequência de nomes esquisitos já vai acabar.<br />

Em 1428, os astecas se uniram a duas cidades nahuas vizinhas, Texcoco, dos índios<br />

acolhuas, e Tlacopan, a maior cidade dos tepanecas. Formou-se assim uma tríplice<br />

aliança que em menos de cem anos incluiu em seu domínio 450 cidades, espalhadas entre<br />

a costa do Pacífico e o golfo do México. Os primeiros conquistados foram os nahuas que<br />

viviam perto de lagos menores, como as cidades de Chalco, Xochimilco e Huexotzinco.<br />

As campanhas militares continuaram para o sul, onde hoje fica a cidade de Oaxaca,<br />

atingindo índios de outros troncos linguísticos, como os mixtecas e os zapotecas, e<br />

chegaram até mesmo aos maias, na península de Yucatán. Entre todos esses povos, os<br />

poucos que resistiam ao domínio asteca estavam em Tlaxcala (no meio do caminho entre<br />

o golfo do México e Tenochtitlán), e em Michoacán, próxima à costa do Pacífico. Esses<br />

grupos estavam a ponto de serem dominados quando os espanhóis chegaram para salvar<br />

sua pele.<br />

Os códices astecas são documentos pictóricos que os índios criavam em peles de animais ou papéis feitos com cascas<br />

de árvores. Assim como os lienzos, retratava as dinastias e o dia a dia do império. Muitos códices foram reproduzidos<br />

pelos índios a pedido dos missionários europeus. O Códice Mendoza, por exemplo, foi terminado às pressas para ser<br />

enviado ao rei espanhol. Ao cruzar o Atlântico, porém, o navio que o transportava foi atacado por piratas franceses.<br />

Como o papagaio para o Brasil, o quetzal era o pássaro que identificava os astecas. Suas penas eram essenciais na<br />

arte e nos rituais indígenas.<br />

O principal objetivo das conquistas militares astecas era fazer as cidades derrotadas<br />

pagarem impostos e, assim, assegurar a boa vida dos nobres na capital. Ao contrário dos<br />

incas, os astecas não estabeleciam um império direto – costumavam manter os líderes<br />

derrotados no poder desde que cumprissem com os tributos. Graças aos códices<br />

indígenas, sabemos quanto cada cidade conquistada pagava de imposto a Tenochtitlán.<br />

Um exemplo: o pequeno vilarejo de Coaixtlahuacán (melhor nem tentar pronunciar)<br />

fornecia por ano 4 mil peças de roupa, 800 asas de quetzal, 40 sacolas de corante de<br />

cochonilhas, 20 quantidades de ouro, entre outros produtos. 97 Segundo o Códice<br />

Mendoza, Tenochtitlán arrecadava anualmente, de todas as suas províncias, mais de 150<br />

mil peças de roupa, 32 mil instrumentos de guerra (como escudos e flechas), mais de 30<br />

mil penas coloridas, além de centenas de ornamentos para guerreiros, peles de jaguar e<br />

veados, jarras e potes, carregamentos de sal, cacau, mel, pimenta, objetos de ouro e<br />

bronze.<br />

A arma mais usada pelos astecas era o macauitl, um tacape com cacos de vidro<br />

vulcânico encrustrados. Era usado não tanto para matar os inimigos, mas para feri-los e<br />

capturá-los vivos. Isso porque o segundo objetivo das guerras nahuas era arrecadar<br />

vítimas para a maior obsessão dos povos da Mesoamérica: os rituais de sacrifício<br />

humano.<br />

É difícil encontrar, entre todos os continentes, entre todas as épocas, uma civilização<br />

mais obcecada por cerimônias de morte que os astecas. As estimativas de mortos durante<br />

o domínio desse império variam muito: mesmo as mais baixas são assustadoras. Relatos<br />

espanhóis do século 16, com base em histórias contadas pelos índios, falam em 80.400<br />

mortes em 1487, durante a inauguração do Templo Maior de Tenochtitlán. Trata-se<br />

certamente de um exagero: nem as máquinas de morte em série do Holocausto<br />

conseguiriam matar tanta gente em tão pouco tempo. Provavelmente os astecas, para<br />

realçar sua majestade e espalhar o temor entre os vizinhos; e os espanhóis, para destacar

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