Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O LATIFUNDIÁRIO MAIS FAMOSO DE<br />
HOLLYWOOD<br />
O sombreiro, o taco, o molho de carne com chocolate e pimenta, o apreço por<br />
música ruim e o hábito de comer ovos crus no café da manhã são coisas que em nenhum<br />
lugar se vê tanto quanto no México. É um país singular. No Dia dos Mortos, 2 de<br />
novembro, seus habitantes montam altares dentro de casa, servem comida aos parentes<br />
falecidos e saem às ruas se divertindo com esqueletos (dica: para comprar um nas<br />
lojinhas, é só perguntar pelas calaveras). Eles fazem até pequenas caveiras de açúcar.<br />
Todas comestíveis, claro. E dá para colocar o próprio nome nelas também. Pitoresco.<br />
Exótico. Assim também foi a Revolução Mexicana, que derrubou o ditador Porfirio Díaz<br />
e sacudiu o país inteiro entre 1910 e 1920. O movimento lutou por reforma agrária antes<br />
mesmo da Revolução Russa, de 1917. Sua marca registrada são os rebeldes de bigode<br />
pontudo, chapelão, cartucheira com balas no peito e muita maconha dentro do pulmão. Ao<br />
percorrer milhares de quilômetros para lutar contra as tropas federais, os revoltosos<br />
entoavam um hino curioso:<br />
La cucaracha, la cucaracha, ya no puede caminar. Porque no tiene, porque le falta, marijuana pa’ fumar<br />
Traduzindo:<br />
A barata, a barata já não pode caminhar. Porque não tem, porque lhe falta maconha para fumar<br />
Desse estado mexicano veio o nome da raça dos menores cachorros do mundo. Não se sabe se a raça teve origem por<br />
ali, mas é certo que a região abrigou os criadores que durante o século 19 popularizaram o cãozinho nos Estados Unidos,<br />
com o qual o estado de Chihuahua faz fronteira.<br />
Viva México! Entre os protagonistas da revolução contra o ditador Porfirio Díaz<br />
estava Doroteo Arango, que adotou a alcunha de Francisco “Pancho” Villa. Nasceu em<br />
Durango, no norte do México – sua família morava na propriedade de um fazendeiro. Aos<br />
16 anos, após discutir com o proprietário da terra onde morava, fugiu. Passou algum<br />
tempo escondido nas montanhas e depois foi para o estado vizinho, Chihuahua. Lá,<br />
tornou-se líder de bandidos armados, uma espécie de cangaceiro. Por essa época, não<br />
tinha qualquer discurso político ou ideológico. Quando a revolução contra Porfirio Díaz,<br />
que pedia o fim da ditadura e a reforma agrária, chegou ao seu estado, Pancho foi<br />
integrado ao exército rebelde, por razões ainda não bem compreendidas. Aos poucos,<br />
ganhou confiança dos líderes da revolução e dirigiu a Divisão do Norte, o maior exército<br />
revolucionário da América Latina da época, com 40 mil a 100 mil homens. 282 “É possível<br />
que, de todos os bandidos profissionais do mundo ocidental, tenha sido ele [Pancho]<br />
quem fez a melhor carreira revolucionária”, escreveu o historiador marxista Eric<br />
Hobsbawm. 283 Pancho foi “o mais eminente de todos os bandidos transformados em<br />
revolucionários”, segundo Hobsbawm. 284<br />
Na Divisão do Norte, Pancho recrutou milhares de homens que tinham perdido suas