Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch
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Não só Fidel e Che, mas outros líderes da América Latina tomaram o que chamamos de As Três Atitudes Infalíveis<br />
para a Ruína Econômica: 1) Estatizar empresas e atrapalhar a vida de agricultores e empresários locais, dificultando a<br />
produção de bens. 2) Confiscar propriedades, espantando investimentos nacionais e estrangeiros. 3) Com a baixa da<br />
arrecadação causada pelos itens 1 e 2, imprimir mais dinheiro para cobrir os gastos crescentes, criando inflação.<br />
Mas Che não se deu por vencido. Em 1961, chegou ao ponto máximo de poder: tornouse<br />
ministro da Indústria. Completou nesse cargo as atitudes infalíveis para provocar a<br />
ruína econômica de um país. Suas ordens passaram a influenciar 150 mil funcionários de<br />
287 empresas estatizadas, incluindo toda a indústria açucareira e as companhias elétrica<br />
e telefônica. Assumiu o cargo dando ideias e anunciando projetos: determinou uma meta<br />
de crescimento de Cuba de 15% ao ano e previu a autossuficiência do país em alimentos<br />
e matérias-primas agrícolas, a produção de 9,4 milhões de toneladas de açúcar e o<br />
aumento do consumo de alimentos em 12% ao ano. Decidiu ainda importar uma fábrica<br />
obsoleta da Checoslováquia para produzir geladeiras e cafeteiras e ordenou a produção<br />
de ferramentas, sapatos e lápis.<br />
De novo, não deu certo. Com menos dólares provenientes da exportação de açúcar, o<br />
país ficou sem dinheiro para investir na industrialização. Como os grandes<br />
empreendedores já tinham ido embora, sido expulsos ou presos pelo regime, não havia<br />
pessoal qualificado para tocar as fábricas nem matéria-prima para a produção. Mesmo as<br />
fábricas que permaneceram abertas deixaram de produzir como antes por falta de<br />
matéria-prima ou de interesse dos administradores. Che deparou-se com esse problema<br />
ao perceber que a fábrica estatizada de refrigerantes não fazia produtos tão bons quanto a<br />
Coca-Cola (veja quadro na página 65). Itens industrializados básicos, como sabão em<br />
pedra, detergente, sapatos e pasta de dente viraram raridade.<br />
Já naquela época os líderes cubanos criaram a ladainha de responsabilizar o embargo<br />
imposto pelos Estados Unidos pelo lamaçal da economia cubana. Em julho de 1960,<br />
depois de ter notícia dos fuzilamentos em La Cabaña e de assistir a refinarias de<br />
petróleo, lojas e terras de americanos serem confiscadas sem o pagamento de<br />
indenizações, o governo dos Estados Unidos rompeu relações com Cuba e deixou de<br />
fazer as habituais compras de açúcar. Nos meses seguintes, interromperia todos os<br />
acordos econômicos com a ilha. A decisão americana fragilizou ainda mais a já destruída<br />
economia cubana, mas não se pode dizer que Che e Fidel Castro não imaginassem que<br />
isso aconteceria – e que não tenham agido deliberadamente para cortar relações com os<br />
americanos. “Che provocou o embargo”, afirma o escritor cubano-americano Humberto<br />
Fontova, autor da biografia O Verdadeiro Che Guevara. 61 Em diversas passagens de<br />
seus textos, o guerrilheiro deixou evidente que não esperava manter relações com o<br />
vizinho:<br />
Os países socialistas têm o dever moral de pôr fim à sua cumplicidade tácita com os países exploradores do Ocidente. 62<br />
Ao focar a destruição do imperialismo, há que identificar sua cabeça, que outra coisa não é senão os Estados Unidos da<br />
América do Norte. 63<br />
Toda a nossa ação é um grito de guerra contra o imperialismo e um clamor pela unidade dos povos contra o grande<br />
inimigo da espécie humana: os Estados Unidos da América do Norte. 64<br />
Com o passar dos anos, a virulência e o otimismo dos discursos do ministro das