Os discursos da primeira-dama peronista eram extremamente simples. Ela se limitava a enaltecer o marido e atacar inimigos imaginários, como neste discurso de 1948: O capitalismo estrangeiro, o capitalismo estrangeiro e seus serventes oligárquicos e entreguistas comprovaram que não há força capaz de submeter o povo que tem consciência de seus direitos. Uma vez mais, meus queridos descamisados, unindo-nos ao líder e condutor, reafirmamos que na vida argentina já não há lugar para o colonialismo econômico, para a injustiça social, nem para os traficantes de nossa soberania e nosso futuro. O GUARDA-ROUPA DE EVITA Contudo, ao escolher as peças de seu armário, a raiva xenófoba se esvaía. Evita era fã dos vestidos do francês Christian Dior e dos sapatos do também francês Perugia. Ao morrer, os bens de Evita contavam “756 objetos de prataria e ourivesaria, 144 peças de marfim, colares e broches de platina, diamantes e pedras preciosas avaliadas em 19 milhões de pesos”. 258 258 Tomás Eloy Martínez, Santa Evita, Companhia das Letras, 1996, página 120.
Compradores internacionais também tinham de se submeter aos preços do IAPI e, por isso, se sentiram desencorajados. O IAPI vendia um quintal de trigo por 45 pesos, mas o produto era cotado a 28 pesos em Chicago. Cobrava 23,5 pesos pelo milho, quando o preço internacional era de 17,5 pesos. No início, como não havia concorrência com os produtos argentinos, países como a Inglaterra foram obrigados a comprar da Argentina mesmo assim. Mas foi por pouco tempo. O país que estava prestes a saciar a fome do mundo viu sua participação no comércio mundial despencar. Entre 1946 e 1954, as exportações de carne caíram de 296.440 toneladas para 167.635. Quedas semelhantes ocorreram entre os grãos, como o trigo. A fatia argentina sobre o comércio de carne caiu de 40% para 19%. Em trigo, caiu de 19% para 9%. Linhaça, de 68% para 44%. As ações benevolentes de Perón para com os trabalhadores foram um tiro no pé. Ao aumentar o salário mínimo, o presidente estimulou as compras. Contudo, não se preocupou com expandir os investimentos nas áreas de indústria pesada, de energia e mecanização do campo. 259 O país, então, foi forçado a importar bens de capital, necessários para que a produção conseguisse abastecer o mercado interno. Contudo, como as exportações agrícolas caíram vertiginosamente, não havia dinheiro para tanto. E os investidores estrangeiros não ousavam se aventurar no país com uma retórica nacionalista, estatizante e sem respeito pela propriedade privada. O capital estrangeiro, que antes da Primeira Guerra Mundial representava metade dos investimentos no país, passou para 5% em 1949. Com Perón, aquele dinheiro que estava guardado no Banco Central, que poderia ser usado para a indústria pesada, foi todo usado na nacionalização de companhias já existentes que possuíam donos estrangeiros. Pagou caro, até o triplo, por companhias de transporte e comunicação. Algumas, como as ferrovias, estavam bastante deterioradas e necessitavam de reparos urgentes. Sem conseguir exportar produtos agrícolas e com a indústria em decadência, a balança comercial argentina foi para o vermelho. Em 1945, o país importava 1,8 bilhão de pesos e exportava 6,7 bilhões, resultando num saldo positivo de 4,9 bilhões. As reservas de ouro eram de 1,6 bilhão de dólares. Dez anos depois, importava 5,3 bilhões de pesos e exportava 4,4 bilhões de pesos, o que deixava o país com saldo negativo de 900 milhões de pesos. As reservas encolheram para 402 milhões de dólares. Os argentinos gostaram e pediram mais. 260 Em 1928, a União Soviética tinha lançado a moda de planos quinquenais, de cinco anos, que inspiram governantes latino-americanos até hoje. Perón alterou a Constituição em 1949 para permitir a reeleição, prática conhecida entre políticos latino-americanos. Em 1952, obteve a maioria dos votos e mais cinco anos de governo. Lançou então seu segundo plano quinquenal. Nada mudou de importante. O governo continuou empregando mais gente do que devia. Entre 1945 e 1955, o número de empregados na administração central do governo federal subiu de 203.300 para 394.900. 261 Os preços seguiram aumentando com os salários agora congelados. Os erros provocaram um declínio de 32% no valor dos salários reais entre 1949 e 1953. Em maio de 1954, trabalhadores metalúrgicos revoltaram-se contra seus líderes peronistas e iniciaram greves que afetaram ainda mais a produção. Nessa época, Evita convocou a cúpula da CGT e pediu a compra de 5 mil pistolas automáticas e 1.500 metralhadoras para formar milícias de trabalhadores. Todos os gastos correriam por conta da Fundação Eva Perón, segundo o
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