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Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch

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JOGOS, TRAPAÇAS E CANOS FUMEGANTES<br />

Às sete horas da manhã do dia 11 de setembro de 1973, a marinha chilena tomou o<br />

porto de Valparaíso e prendeu 3 mil pessoas, o equivalente a 1% de toda a população da<br />

cidade. 329 Os detidos, que ficaram em navios ancorados, eram simpatizantes do governo<br />

de Salvador Allende. Quinze minutos depois, o presidente, avisado do golpe em<br />

andamento por um telefonema, correu para o Palácio de La Moneda, a sede do Poder<br />

Executivo, no centro da capital, Santiago. O prédio logo foi cercado por tropas e tanques,<br />

que começaram a disparar. Perto do meio-dia, aviões da força aérea chilena deram<br />

rasantes no prédio e bombardearam as torres, criando labaredas de fogo nas janelas.<br />

Dentro do edifício, Allende proferiu discursos pelo rádio, usando os três telefones de seu<br />

escritório que tinham conexão direta com estações que apoiavam o governo. “Neste<br />

momento definitivo, o último em que eu posso me dirigir a vocês, quero que aproveitem a<br />

lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos aos reacionários, criaram um clima<br />

para que as forças armadas rompessem a tradição”, disse ele. Ladeado por um pequeno<br />

grupo de militantes e agentes cubanos, o presidente suicidou-se às duas horas da tarde<br />

com um tiro de fuzil AK-47 na cabeça. “Foi com propósito e premonição que nós lhe<br />

oferecemos esse fuzil automático. Nunca um fuzil foi empunhado por mãos tão heroicas”,<br />

diria mais tarde o ditador cubano Fidel Castro, que dera a arma de presente para<br />

Allende.<br />

A atitude extrema de Allende, eleito presidente do Chile em 1970 pela coligação de<br />

partidos Unidade Popular, celebrizou-o como um mártir da esquerda na América Latina e<br />

no mundo. O fato de ter sido substituído pela cruel ditadura de Augusto Pinochet, que<br />

durou 17 anos, fez com que ganhasse a aura de defensor heroico da democracia, dos<br />

menos favorecidos, da liberdade de expressão.<br />

Mas o primeiro presidente marxista eleito democraticamente em todo o mundo<br />

(Rússia, China, Cuba e os demais se tornaram socialistas pelas armas) foi também o<br />

pioneiro em destruir a democracia de dentro dela mesma. Eleito com apenas um terço<br />

dos votos para se tornar o líder máximo da sua nação, Allende atropelou o Congresso, a<br />

Suprema Corte, a Controladoria Geral e a Constituição, que naquela época já vigorava<br />

havia 45 anos. Na sua proposta de abrir uma “via chilena ao socialismo” – segundo ele<br />

“irmã mais nova da Revolução Soviética” –, apoiou grupos paramilitares que recebiam<br />

ajuda de Cuba. Nacionalizou fazendas e indústrias, promovendo desabastecimento e<br />

inflação. Allende também reprimiu a imprensa e fez um projeto de doutrinação socialista<br />

nas escolas. Quando o caos não deixava mais saída para o seu país, planejou com seus<br />

companheiros políticos um autogolpe, que instalaria a ditadura do proletariado e<br />

sepultaria de vez a oposição democrática. O desfecho só não foi esse porque, uma<br />

semana antes da data, os militares se anteciparam e bombardearam o Palácio de La<br />

Moneda.<br />

Só entre os políticos e intelectuais brasileiros que foram para o Chile, estavam o ex-presidente brasileiro Fernando<br />

Henrique Cardoso, José Serra, Plínio de Arruda Sampaio, Francisco Weffort, <strong>Da</strong>rcy Ribeiro, Betinho, Fernando Gabeira<br />

e Alfredo Sirkis.

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