Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch
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É comum se afirmar que durante a conquista europeia “os índios homens foram<br />
mortos e as mulheres, emprenhadas”. A sentença reproduz a ideia de que os europeus<br />
tiveram pleno controle de suas ações da América. Na verdade, a própria relação dos<br />
recém-chegados com as índias mostra como eles precisaram mergulhar na<br />
cultura local para realizar seus objetivos. Tanto entre índios guaranis do<br />
Brasil e do Paraguai como entre os andinos e os nahuas do México, o<br />
casamento era muito mais que um evento particular: determinava alianças<br />
militares e posições sociais.<br />
O ADÃO PERNAMBUCANO<br />
Em toda a América Latina, índios só se aliavam depois que mulheres de seu clã se<br />
casassem com os europeus. Dois casos mostram isso muito bem. Um deles é o do<br />
português Jerônimo de Albuquerque, fundador do primeiro engenho de cana-de-açúcar de<br />
Pernambuco e cunhado de Duarte Coelho, o primeiro donatário daquela região. Ao<br />
chegar ao Brasil, eles não se entenderam com os índios tabajaras. Precisavam do<br />
trabalho dos índios para mover seu engenho, mas os nativos preferiam derrubar paubrasil<br />
para outros europeus. O problema se resolveu quando Jerônimo de Albuquerque se<br />
casou com Tabira, a filha do cacique dos Tabajaras. Teve tantos filhos com ela e outras<br />
mulheres que ganhou o nome de “Adão Pernambucano”. 118<br />
No México, há um correspondente feminino. Diversas índias nobres procuraram se casar<br />
com os espanhóis para manter o status de sua linhagem. O caso mais famoso é o de<br />
uma das filhas do imperador Montezuma, batizada como Doña Isabel Moctezuma. Antes<br />
de os espanhóis chegarem, ela já havia casado com três líderes vizinhos, com o objetivo<br />
de selar alianças entre os povos.<br />
E A EVA MEXICANA<br />
Depois da conquista, foi morar na casa do próprio Hernán Cortés, com quem teve um<br />
filho. Ainda se casou com outros três exploradores espanhóis: Alonso de Grado, Pedro<br />
Gallego e Juan Cano. Ninguém a considerava uma mulher promíscua – e sim uma<br />
respeitável representante da nobreza, dona de encomiendas e preocupada em construir<br />
alianças de sangue com os espanhóis mais proeminentes. 119<br />
118 Maria do Carmo Andrade, “Jerônimo de Albuquerque”, Fundação Joaquim Nabuco, disponível em www.fundaj.gov.br.