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Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch

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Tudo deveria girar em torno dos militares e da preparação para a guerra iminente. A<br />

participação dos gastos bélicos no orçamento sobe de 27,8% em 1942 para 50,7% em<br />

1946. A Constituição foi alterada para que a propriedade não fosse mais inviolável. A<br />

posse agora teria obrigações sociais, e a falha em cumpri-las poderia provocar sua<br />

perda. Na visão dos militares, toda companhia deveria servir à economia nacional. Perón<br />

começou assim a tomar as atitudes infalíveis para acabar com o desenvolvimento de seu<br />

país. O Estado poderia “intervir na economia e monopolizar qualquer atividade<br />

particular” pelo interesse geral. Também podia estatizar qualquer empresa que tentasse<br />

“dominar o mercado nacional, eliminar a competição ou obter lucros excessivos”.<br />

Estatais passaram a ser administradas por militares. O Banco Central, que tinha a<br />

participação de bancos privados, foi nacionalizado em março de 1946.<br />

Fracasso na indústria e no campo<br />

Ao juntar o controle da economia com benefícios desmedidos para os trabalhadores,<br />

Perón deixou os empresários sem saída. Entre 1946 e 1950, o salário mínimo subiu<br />

33%. 254 Levando em conta outros benefícios, foi um aumento de 70%. Perón também<br />

alterou a lei trabalhista e dificultou as demissões. Sentindo-se imunes à perda do<br />

emprego, os empregados começaram a faltar como nunca. Muitos arrumaram um segundo<br />

emprego, que desempenhavam no mesmo horário do primeiro. Com apoio do governo,<br />

sindicatos de vários setores começaram a criar suas próprias folgas “em celebração à<br />

contribuição daquela indústria para a nação”. Nesses dias, realizavam diversos atos<br />

públicos. Mas não foi suficiente. Também passaram a declarar o dia seguinte às folgas<br />

como feriado, para que os funcionários pudessem descansar. Em 1951, o argentino médio<br />

descansava um dia para cada dois trabalhados. 255<br />

Tentativas do governo de disciplinar funcionários e manter a produção levaram a<br />

greves e a conflitos violentos. Como a polícia e a justiça ficavam sempre do lado do<br />

empregado, diretores e donos de empresas viviam com medo. Tito Casera, diretor de<br />

pessoal da SIAM, foi preso acusado de atividades “antiperonistas”. Seu erro foi tentar<br />

impedir funcionários de colocar bustos de Eva Perón dentro da fábrica. Como resultado<br />

das disputas com empregados, empresários reduziram atividades e procuravam, ao<br />

máximo, mecanizar as linhas de produção. Funcionário passou a ser visto como<br />

problema. Em 1950 havia menos 14.500 operários do que em 1946. O total de fábricas<br />

foi reduzido em 3.316. Sem conseguir produzir o suficiente para abastecer o mercado<br />

consumidor, a inflação aumentou. Em 1949, o custo de vida cresceu 68% em um único<br />

ano. 256 Um ano depois, a economia do Brasil, cada vez mais industrializada, ultrapassaria<br />

pela primeira vez o tamanho da economia argentina e nunca mais perderia a<br />

superioridade. 257<br />

Quem também sofreu nas mãos de Perón foram os fazendeiros e os pecuaristas. Em<br />

1946 o governo criou o IAPI, uma empresa para monopolizar todas as compras de<br />

produtos agrícolas para exportação. Os negociadores privados foram isolados do<br />

processo, e o governo tornou-se o único mediador. Mas o IAPI pagava pouco para donos<br />

de terras e arrendatários. Enquanto o preço de cada 100 quilos do trigo estava em 18,2

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