Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch
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Quando Perón e sua trupe retornaram a Buenos Aires, novas eleições foram<br />
convocadas e – adivinhe? – os argentinos tornaram a votar em peso no homem. Ele<br />
ganhou, assim, outra chance para destruir seu país. Destilou a mesma receita já<br />
fracassada em seus dois mandatos anteriores: controle da indústria, congelamento de<br />
preços e salários, regulação das exportações agrícolas, centralização, inchaço do<br />
funcionalismo, estatizações e xenofobia. Uma lei de 1973 proibiu o investimento exterior<br />
em áreas como alumínio, química industrial, petróleo, bancos, seguros, agricultura,<br />
imprensa, publicidade e pesca. Diretores de empresas estrangeiras foram obrigados a se<br />
registrar como agentes estrangeiros. Claro, nenhum investimento de fora foi registrado no<br />
país nos três anos seguintes. O número de funcionários públicos subiu de 1,4 milhão para<br />
1,7 milhão em apenas três anos. Um aumento de 339 mil. Com tanta gente, prefeituras se<br />
viram incapazes de pagar as folhas de pagamento e, assim, tiveram de cortar serviços<br />
como coleta de lixo, limpeza e iluminação das ruas. Mesmo assim, nenhum empregado<br />
público foi demitido. 278 Sindicalistas peronistas ganharam força, e uma lei passou a<br />
proibir que fossem acusados de crimes, a menos que pegos em flagrante. A<br />
insubordinação aumentou. O investimento na indústria caiu 30% em 1973 e mais 38% no<br />
ano seguinte. 279 O gasto público elevado obrigou a emissão de moeda, aumentando a<br />
inflação, que chegou a 74% anuais em 1974. Nos dois anos seguintes, chegaria a<br />
assustadores 954%. 280<br />
A tragédia se assemelhava com a de 20 anos antes, mas com um diferencial: a<br />
guerrilha urbana estava muito mais atuante nos anos 70. Grupos terroristas como os<br />
montoneros, com 250 mil homens, e o Exército Revolucionário do Povo (ERP), ambos de<br />
esquerda, e a Juventude Sindical Peronista (JSP, de direita) enfrentavam-se nas ruas,<br />
roubavam bancos, sequestravam empresários e atacavam policiais. O ERP, cansado de<br />
tentar convencer o proletariado a entrar na revolução, decidiu que a faria “com as<br />
massas, sem as massas ou contra as massas”. O país mergulhou na desordem. “Ninguém<br />
vai me dizer que esses que assaltam bancos estão fazendo isso por um motivo ideológico<br />
superior: eles estão fazendo essas coisas para roubar”, disse o presidente. O bruxo López<br />
Rega, nomeado ministro do Bem-Estar Social, distribuiu armas aos terroristas da direita,<br />
como a JSP e a Concentração Nacional Universitária. Outra que ganhou força foi a<br />
Aliança Anticomunista Argentina (AAA), criada por López Rega. Seus membros<br />
enviavam cartas para os esquerdistas ordenando que deixassem o país. Caso não o<br />
fizessem, eram geralmente assassinados dias depois.<br />
No dia 1o de julho de 1974, Perón morreu, aos 78 anos. O “abacaxi” passou para as<br />
mãos de Isabelita, sua esposa e vice-presidente. Do dia em que ele morreu até setembro<br />
de 1975, 248 esquerdistas morreram nas mãos da AAA. Outros 131 foram mortos pela<br />
polícia e 132 corpos não identificados foram encontrados. 281 Isabelita iniciou um governo<br />
desastroso e deixou a Casa Rosada após um golpe militar em março de 1976, dando<br />
início à ditadura mais sangrenta da América Latina.<br />
278 Paul H. Lewis, localizações 5778-82.<br />
279 Paul H. Lewis, localizações 5852-56.<br />
280 Paul H. Lewis, localizações 5869-73.