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Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch

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Pancho Villa costumava explicar sua rebeldia contando uma história sofrida de sua<br />

adolescência. Aos 16 anos, voltava para casa em Durango quando encontrou o dono da<br />

fazenda onde ele morava, Don Agustín López, discutindo com sua mãe. “Vá embora da<br />

minha casa! Por que quer levar minha filha?”, gritava ela. Pancho pegou um rifle e atirou<br />

contra Don Agustín, sem o ferir gravemente. Na fuga, matou alguns de seus<br />

perseguidores. Desde então, só lhe restou a vida louca de banditismo. 300 Porém, enquanto<br />

não há como saber se o relato de violação de sua irmã é verdadeiro, o disparo contra o<br />

fazendeiro e seus empregados mais parece uma farsa. Pancho só foi preso por roubar<br />

mulas e um rifle. Foi solto em seguida.<br />

OS FALSOS COITADINHOS<br />

Alterar a própria história para fazer-se de coitado é uma<br />

obsessão entre muitos heróis da América Latina. Segundo diplomatas<br />

americanos que viviam no México, os pais de Pancho “tinham um rancho e desfrutavam<br />

certa abundância. Sua educação se limitou à escola primária, mas ao menos chegou até<br />

aí, não é o analfabeto que descrevem os jornais; suas cartas estão bem redigidas”. 301<br />

Fenômeno parecido ocorreu com o brasileiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. O<br />

famoso bandido dizia ter entrado no cangaço para vingar o assassinato do pai, morto em<br />

1920 por um policial, o tenente Lucena. Essa é só meia verdade. Lampião não<br />

contava a ninguém que o pai morreu justamente por causa dos<br />

roubos e dos saques que ele mesmo praticava. Quando o tenente Lucena<br />

invadiu a casa da família, estava à procura do filho – Lampião e uns amigos tinham<br />

matado um rapaz de 15 anos e cometido assaltos em Alagoas. O tenente entrou na casa<br />

atirando e matou o pacato pai do cangaceiro. 302<br />

Outro caso semelhante é o da índia guatemalteca Rigoberta Menchú. Sua biografia causou<br />

impacto em 1983 e rendeu a ela o Prêmio Nobel da Paz. O livro contava a triste história<br />

de Rigoberta, que fora proibida de frequentar a escola, cresceu em miseráveis vilas<br />

maias e conviveu com esquadrões da morte patrocinados pelos Estados Unidos contra os<br />

índios e o movimento de guerrilha que resistia ao governo. Rigoberta foi uma<br />

unanimidade até 1999, quando o antropólogo americano <strong>Da</strong>vid Stoll revelou os exageros<br />

e as mentiras da obra. Stoll descobriu que a família de Rigoberta não era tão<br />

pobre quanto ela dizia, nem precisava se sujeitar a trabalhos de semiescravidão. Seu<br />

pai era dono de terras que foram distribuídas pelo governo, e ela havia estudado até o<br />

oitavo ano em instituições católicas privadas. O antropólogo provou também que os<br />

conflitos entre os índios e o governo foram deflagrados pelo movimento

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