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Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch

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paus, pedras e tiros pelo direito de subir ao palanque.<br />

Evita Perón rodou o mundo depois de morta. Tão logo a Madona dos Descamisados<br />

faleceu, em 1952, teve início seu embalsamento. O encarregado foi o médico anatomista<br />

espanhol Pedro Ara, que desempenhou a tarefa em um laboratório improvisado dentro da<br />

Confederação Geral do Trabalho (CGT), a central sindical peronista. Quando os<br />

militares depuseram Perón, em 1955, o exército, sob a liderança do tenente-coronel<br />

Carlos Eugenio Moori Koenig, invadiu o prédio para pegar o corpo e escondê-lo,<br />

evitando que se tornasse um objeto de culto. A cena dos homens entrando no laboratório<br />

para levar Evita é relatada pelo escritor Rodolfo Walsh, no livro Esa Mujer:<br />

Ela estava nua no caixão e parecia uma Virgem Santa. Sua pele tornara-se transparente. Podiam ser vistas as<br />

metástases do câncer, como pequenos desenhos sobre um vidro molhado. Nua. Éramos quatro ou cinco, incapazes de<br />

nos olharmos. Havia um capitão de navio, o galego [sinônimo de espanhol, para os argentinos], que a embalsamou, e não<br />

sei mais quem. E, quando a tiramos dali, aquele galego asqueroso atirou-se sobre ela. Estava apaixonado pelo cadáver,<br />

tocava-a, mexendo discretamente nos bicos dos seios. 411<br />

Evita em seguida habitou diversos prédios militares até ser colocada dentro de uma<br />

caixa de madeira no gabinete do tenente-coronel Koenig. 412 Saiu de lá para uma cova<br />

anônima na Itália, onde permaneceu até ser devolvida a Perón, que então estava exilado<br />

na Espanha. Foram 21 anos de percalços até que Evita repousasse no Cemitério de La<br />

Recoleta, em Buenos Aires, a seis metros de profundidade. Seu túmulo foi construído por<br />

uma empresa especializada em caixas de bancos, para evitar outro sequestro. Só a irmã<br />

de Evita ganhou uma chave. 413<br />

Também deram notícia os restos mortais de Salvador Allende. O presidente chileno<br />

cometeu suicídio em 1973 no Palácio de La Moneda, em Santiago, com uma AK-47 que<br />

Fidel Castro lhe dera de presente. Em diversas ocasiões, Allende admitiu a possibilidade<br />

de colocar sua vida em jogo em nome da causa que defendia. No discurso que proferiu<br />

pelo rádio dentro de La Moneda, cercado por militares, disse: “Colocado em um transe<br />

histórico, pagarei com minha vida a lealdade do povo”. 414 Fidel Castro, que conhecera<br />

Allende e ficou três semanas no Chile fazendo discursos em todas as cidades que<br />

passava, afirmou após a morte de Allende: “Ele tinha aquela disposição de ânimo, aquela<br />

disposição de defender o processo ao custo de sua própria vida”. Ao antropólogo<br />

brasileiro <strong>Da</strong>rcy Ribeiro, Allende disse: “Só sairei de La Moneda coberto de balas”. 415<br />

A tese do suicídio é defendida também pela família do ex-presidente.<br />

O corpo de Allende foi exumado em maio de 2011 para testar outra hipótese,<br />

defendida por um grupo de legistas. Eles afirmam que o presidente teria recebido tiros de<br />

armas de calibres diferentes: uma pistola automática e um fuzil. A primeira explicação é<br />

a de que ele cometeu um suicídio assistido: depois de dar um tiro em si próprio, sem<br />

conseguir pôr fim à vida, recebeu outro, do militante de esquerda Enrique Huerta, que<br />

teria completado a execução para cumprir uma promessa feita ao presidente de não<br />

deixá-lo sair vivo de La Moneda. 416 A segunda explicação é a de que Allende foi<br />

assassinado pelos militares, que depois ocultaram o fato. Tudo besteira. A perícia,<br />

finalizada em julho de 2011, concluiu que o presidente se matou.<br />

O argentino Che Guevara teve as mãos amputadas a pedido do exército boliviano, logo<br />

depois de morto em 1967, para que servisse como prova incontestável de sua morte. 417

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