Guia Politicamente Incorreto Da - Leandro Narloch
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comboios de mula que levavam o pagamento dos funcionários da firma de Furber. 306<br />
Em retribuição, Pancho manteve praticamente intactas as propriedades de estrangeiros<br />
depois que teve início a revolução. Preferiu armar briga com fazendeiros mexicanos e<br />
espanhóis. Nunca com seus ex-patrões e seus conterrâneos. A imunidade dos estrangeiros<br />
era tão evidente que muitos proprietários mexicanos venderam suas terras a preço de<br />
banana aos de fora, os quais podiam usá-las como pasto para gado ou cultivá-las sem<br />
dores de cabeça. 307<br />
Os Estados Unidos mandaram até um cônsul especial para funcionar como um representante diplomático<br />
acompanhando Pancho Villa. Seu nome era George Carothers.<br />
Com os donos de minas de prata americanos, a relação também era de cordialidade.<br />
Uma vez que o país, convulsionado pela guerra, e o mundo estavam sofrendo uma<br />
redução na demanda de minerais, muitos estrangeiros desistiram de investir no país e<br />
interromperam a produção. Pancho conversou com eles para que reatassem os trabalhos.<br />
Como garantia, deu sua palavra de que não teriam as minas confiscadas se atendessem a<br />
seus pedidos. Também lhes assegurou que os trens, fundamentais para o transporte das<br />
tropas revolucionárias, estariam sempre à disposição dos mineradores para levar seus<br />
produtos aos Estados Unidos. Pancho ainda prometeu que permitiria a presença de<br />
sindicalistas americanos, principalmente de membros da IWW, a Industrial Workers of<br />
the World (Trabalhadores Industriais do Mundo, em inglês), sindicato americano com<br />
sede em Chicago e ligado a partidos socialistas. Seus integrantes não conseguiriam agitar<br />
os trabalhadores nem fariam greves. 308 Confiando nesse autêntico socialista, muitos<br />
donos dos meios de produção retornaram às suas atividades.<br />
Para os empresários industriais, a mão firme de Pancho, que manteve a disciplina<br />
mesmo entre seus chapados comandados da Divisão do Norte e impediu greves nas minas<br />
e nas fábricas, era a chave que poderia abrir um futuro ordeiro para o México. 309 O<br />
presidente americano Woodrow Wilson gostava disso. Uma vez, ao falar de Pancho em<br />
uma conversa com um militar francês, o presidente americano:<br />
Expressou a admiração que lhe causava que este bandido de caminhos tivesse conseguido gradualmente instilar em suas<br />
tropas disciplina suficiente para convertê-las em um exército. Talvez, disse, este homem representa hoje o único<br />
instrumento de civilização que existe no México. Sua firme autoridade permite colocar ordem e educar a turbulenta<br />
massa de peões, tão inclinada à pilhagem. 310<br />
Em 1914, quando virou estrela de Hollywood, Pancho também se tornou um dos<br />
personagens preferidos de revistas e jornais americanos. Para um jornalista ianque, era<br />
só cruzar a fronteira para a tentadora aventura de entrevistar um exótico revolucionário.<br />
O assédio a Pancho pelos gringos imperialistas era intenso, e ele chegou até mesmo a<br />
sair na capa de revistas. Era hype. A propaganda de um dos filmes sobre ele dizia que se<br />
publicava sobre Pancho o triplo do que sobre qualquer outro ser vivo. 311