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Ela estava preocupada com o fato de ele se achar tão reticente. Era óbvio que
ele estava aborrecido com ela.
— Posso sentar-me? — perguntou Cassi, hesitantemente.
— Não sei por que você pede minha opinião — disse o Dr. Obermeyer —
quando não segue nenhuma de minhas outras sugestões.
O oftalmologista não se importou em se voltar para falar. Cassi sentou-se e
ficou com as pernas balançando na beira da mesa. Seu olho direito estava
começando a se corrigir do trauma causado pela luz brilhante, mas sua visão
continuava embotada pelas gotas usadas para dilatar suas pupilas. Por um
momento ela observou o Dr. Obermeyer de costas, digerindo seu comentário. Já
esperava que ele estivesse aborrecido por ela ter cancelado sua última visita, mas
não pensou que o caso fosse tão ruim assim.
Só depois de acabar de escrever e fechar sua pasta foi que se virou para
Cassi. Ele estava sentado num banquinho baixo, com rodas, e deslizou até ela
para encará-la.
A linha de visão de Cassi de seu poleiro sobre a mesa de exame era bem uns
30cm mais alta do que a do médico. Ela podia ver a brilhante área no alto da
cabeça dele onde o cabelo estava rareando. Ele não era o homem mais bemapessoado
do mundo, com suas feições largas e pesadas e uma profunda ruga no
meio da testa. No entanto, o conjunto não era de todo sem atrativos. Seu rosto
denotava inteligência e sinceridade, duas qualidades que Cassi achava atraentes.
— Acho que devo ser franco — começou ele. — Seu olho esquerdo não
mostra sinais de estar mais limpo. De fato, parece que há uma nova quantidade
de sangue.
Cassi tentou dissimular sua ansiedade. Ela assentiu, como se estivesse
ouvindo acerca de outro paciente.
— Ainda não posso visualizar a retina — disse o Dr. Obermeyer. Em
consequência, não sei de onde está vindo o sangue, ou se é uma lesão tratável.
— Mas o teste de ultrassom... — começou Cassi a falar.
— Provou que a retina não está descolada, pelo menos ainda não, mas não
pode revelar de onde está vindo o sangramento.
— Talvez, se esperássemos um pouco mais...
— Se não limpou até agora, é extremamente improvável que ocorra.
Enquanto isso, perderíamos a única chance que temos de tratamento. Cassi,
tenho que ver a parte posterior de seu olho. Devemos fazer uma vitrectomia.
Cassi olhou para longe.
— Isso não pode aguardar mais ou menos um mês?
— Não. Cassi, você já me fez adiar isso mais do que eu queria. Depois
cancelou sua última visita. Não estou certo de que entenda o perigo aqui.