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Thomas passou um pente nos cabelos, tentando acalmar-se. Com efeito,
aquele não era o seu dia. Todo mundo parecia querer perturbá-lo. A ideia de que
a saúde precária de sua mulher era o tópico de mexericos entre os residentes se
mostrava inexplicavelmente irritante. Era também humilhante.
Repondo o pente no armário, Thomas notou um pequeno recipiente de
plástico. Sentindo crescente tensão interior e os sinais de uma dor de cabeça, ele
abriu a tampa do vidro. Partindo um dos comprimidos amarelos em dois, ele
jogou uma das metades em sua boca. Hesitou um pouco e, então, jogou a outra
metade também. Afinal de contas, ele bem que merecia.
Os comprimidos tinham um gosto amargo e ele precisou de um gole do
bebedouro para fazê-los descer pela garganta. Mas quase imediatamente
experimentou um alívio de sua crescente ansiedade.
A conferência sobre cirurgia cardíaca na tarde de sexta-feira foi realizada no
Salão de Ensino Turner, que ficava no hall, diagonalmente oposto à unidade de
cuidados intensivos cirúrgicos. Ele havia sido doado pela mulher de um Sr. J. P.
Turner, que morrera no final dos anos 30, e o ambiente possuía um toque de art
deco. O salão oferecia 60 lugares, metade do tamanho das salas de aulas da
escola de medicina em 1939. Na frente havia um pódio elevado, um quadronegro
empoeirado, uma estante com antigos mapas de anatomia e um esqueleto
em pé.
Fora o Dr. Ballantine quem insistira para que as reuniões das sextas-feiras
fossem realizadas no Salão Turner, porque ficava perto da enfermaria e,
conforme ele dizia, "O paciente é tudo". Mas o pequeno grupo de mais ou menos
12 assistentes ficava perdido no meio do mar de assentos vazios e nitidamente
desconfortável por trás das carteiras projetadas de um modo espartano.
— Acho que devemos começar a reunião — disse o Dr. Ballantine,
sobrepondo-se ao zunzum das conversas.
A audiência tomou seus lugares. Presentes à reunião estavam seis dos oito
cirurgiões cardíacos da equipe, inclusive Ballantine, Sherman e Kingsley, bem
como vários outros médicos e administradores, e uma relativamente nova
aquisição, Rodney Stoddard, um filósofo.
Thomas observou Rodney Stoddard sentar-se. O filósofo se parecia com ele
ao final da casa dos 20 anos, apesar do fato de ser bastante calvo, com os cabelos
restantes de uma cor tão clara que era difícil vê-los. Ele usava óculos de aros de
metal muito finos e tinha um ar de constante presunção. Para Thomas era como
se o homem estivesse dizendo: "Apresente-me o seu problema, porque sei a
resposta."
Stoddard tinha sido admitido por insistência da universidade. Até então a