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parecendo ainda não ter-se barbeado. Thomas o tinha visto em várias ocasiões,
porém jamais tivera a oportunidade de trabalhar com ele. O tipo possuía a
reputação de ser esperto, dedicado e de ter boas mãos.
Assim que viu Thomas, Peter iniciou uma detalhada apresentação do caso. O
paciente havia sido apunhalado durante um jogo de hóquei no Boston Garden,
mas achava-se numa situação estável, embora tivesse havido algum problema
com sua pressão arterial quando foi admitido na sala de emergência. Seu tipo de
sangue tinha sido determinado, mas nenhum lhe fora aplicado ainda. A primeira
impressão fora a de que a faca havia ferido um dos grandes vasos.
Enquanto Thomas ouvia a descrição, tirou uma máscara cirúrgica da caixa
sobre a prateleira que ficava em cima da pia para esterilização dos braços e
mãos. Ele preferia as máscaras de estilo antigo, que se amarravam atrás da
cabeça e do pescoço, em contraposição com as máscaras moldadas, seguras por
um simples elástico atrás da cabeça. Naquela noite, contudo, deixou escapar ora
um ora outro dos cordões. Então, a máscara fugiu de suas mãos e caiu ao chão.
Thomas soltou uma praga e apanhou outra. E ao estender a mão para pegar a
caixa, Peter notou que a mão de Thomas apresentava um ligeiro tremor.
Peter interrompeu sua descrição do caso.
— O senhor está bem, Dr. Kingsley?
Com a mão dentro da caixa, Thomas girou lentamente a cabeça, olhando
diretamente para Peter.
— Que é que há? Eu estou muito bem.
— Pensei que talvez o senhor não estivesse se sentindo muito bem — disse
Peter timidamente.
Thomas arrancou com violência a máscara de dentro da caixa, vindo com
uma outra extra, que caiu na pia.
— E o que lhe fez pensar que não estou me sentindo bem?
— Não sei, apenas um pressentimento — respondeu Peter, evasivamente. Ele
agora preferia não ter dito nada.
— Para informação, eu me sinto perfeitamente bem — disse Thomas, não
fazendo qualquer tentativa de esconder sua irritação. — Mas se há uma coisa que
não tolero dos residentes é a insolência. Espero que tenha entendido.
— Eu entendo — retrucou Peter, ansioso para encerrar o assunto.
Deixando o residente terminar sua esterilização, Thomas passou pela porta
do Centro Cirúrgico. "Pelo amor de Deus", pensou Thomas, "o garoto não está
vendo que acabo de ser acordado de um sono profundo? Todo mundo tem um
pequeno tremor até acordar completamente."
O Centro Cirúrgico zumbia de atividade. O paciente já estava completamente
anestesiado e a equipe júnior da casa achava-se no processo de preparar o tórax