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pacientes. Thomas disse que lamentava não dispor de mais tempo para
conversar, mas que tudo estava indo muito bem.
— Deve ser extraordinariamente compensador receber esse reconhecimento
das famílias — disse Cassi enquanto eles se encaminhavam para o elevador.
Thomas não respondeu imediatamente. O comentário de Cassi fazia-o
lembrar-se do prazer que havia sentido anos antes, quando os Nazzaros o tinham
cumprimentado. Sua gratidão havia representado algo. Então, ele se lembrou da
filha do Sr. Campbell. E olhou rapidamente para trás, para o corredor,
verificando que ele não a havia visto.
— Oh, é ótimo que os parentes sejam gratos — disse Thomas sem muita
convicção. — Mas não é tão importante assim. Certamente, não é por isso que
faço cirurgia.
— Claro que não — retrucou Cassi. — Eu não queria dizer isso.
— Para mim, o reconhecimento de meus professores e superiores sempre foi
mais importante — falou Thomas.
O elevador chegou e eles entraram.
— O problema é — continuou Thomas — que eu agora sou o professor.
Cassi levantou o olhar. Para surpresa sua, a voz dele tinha um tom
inesperado e indistinto de saudosismo. Enquanto ela o observava, pôde ver que
ele olhava distraidamente, devaneando.
A mente de Thomas retornara para o tempo de sua residência torácica, uma
época de incrível excitação e aventura. Ele se lembrava que, quando nada, vivera
no hospital durante três anos, indo para casa, para seu monótono apartamento de
dois quartos, apenas para se refazer com algumas horas de sono. A fim de se
superar, tinha trabalhado mais duramente do que lhe era possível. E, no fim, fora
indicado para residente-chefe. Em muitos aspectos, Thomas achou que aquele
acontecimento havia sido o fato mais importante de sua vida. Ele fora escolhido
e estava no topo de um grupo de pessoas bem-dotadas, tão empenhadas e
competitivas quanto ele próprio. Thomas jamais esqueceria o momento em que
cada um de seus auxiliares se congratulou com ele. Não havia dúvida, pensou,
que a cirurgia e a vida em geral eram então mais recompensadoras e divertidas.
Parentes agradecidos eram uma coisa muito boa, mas não substituíam o que ele
sentira.
Quando Cassi e Thomas saíram do hospital, foram rudemente batidos por
uma úmida noite bostoniana. Lufadas de vento açoitavam a chuva, formando
círculos caóticos. Às 6h15 já estava escuro. A única iluminação vinha das luzes
da cidade que se refletiam da camada de nuvens baixas e redemoinhantes. Cassi
passou o braço pela cintura de Thomas e, juntos, correram para o estacionamento