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que a realidade da situação se abriu para ele. A excitação cedera lugar à
ansiedade quando Thomas começou a seguir o plano que delineara em sua
mente. Ele jamais esqueceria a sensação experimentada quando pegou o coração
de Walter, aquela massa tremulante de músculo doente em sua mão. Naquele
momento, sabia que estava em seu poder restaurar a vida. Recusando-se a
considerar a possibilidade de um fracasso, Thomas primeiro realizou um bypass,
procedimento experimental naqueles dias. Então ele excisou a área abaulada do
coração de Walter, recosturando o defeito com fileiras de seda forte. Finalmente,
substituiu as válvulas mitral e aórtica.
No momento em que o conserto se completou, Thomas tentou desligar
Walter do aparelho artificial cardiorrespiratório. Já então, sem que Thomas
percebesse, havia-se reunido uma significativa audiência. Houve um murmúrio
de tristeza e decepção quando se tornou evidente que o coração de Walter não
tinha a força suficiente para bombear o sangue. Intrepidamente, Thomas pôs a
trabalhar o aparelho de bombeamento artificial, que tinha posicionado antes da
operação.
Ele sempre se lembrava de sua satisfação de euforia quando o coração de
Walter reagiu. Não somente havia sido Walter desligado do aparelho
cardiorrespiratório, mas três horas mais tarde, no quarto de recuperação, até
mesmo a aplicação da contrapulsação não era mais necessária. Thomas sentiu-se
como se houvesse criado a vida. A excitação era como um calmante. Meses
depois, envolveu-se com a cirurgia a céu aberto. Alcançar o coração, desafiar a
morte com suas duas mãos — era como imitar Deus. Logo descobriu que se
tornava profundamente deprimido sem a excitação de várias dessas operações
por semana. Quando ia operar, marcava uma, duas, três dessas operações por dia.
Sua reputação era tão grande que havia uma infindável fila de pacientes.
Enquanto o hospital lhe permitisse um tempo suficiente na sala de operações,
Thomas ficava tremendamente feliz. Mas se um outro departamento ou os outros
rapazes de tempo integral da medicina clínica tentavam reduzir suas horas de
operações, Thomas ficava tão tenso e irado como um viciado a quem se
houvesse privado de sua droga diária. Ele precisava operar a fim de sobreviver.
Precisava se sentir como Deus para não se considerar um fracasso. Precisava da
aprovação reverente das outras pessoas, da inquestionável aprovação que se via
nos olhos de Larry Owens no momento em que ele perguntava:
— Você decidiu se vai fazer uma ponte dupla ou tripla?
A pergunta trouxe Thomas de volta ao presente.
— É uma boa exposição — disse Thomas, apreciando o trabalho de Larry.
— Nós bem podíamos fazer três pontes, se você dispusesse de veia safena
suficiente.