You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
psiquiatria parecia mil vezes mais difícil do que a conceituação. Ela sabia que
supostamente devia representar um papel de estruturação, mas não tinha certeza
do que exatamente aquilo significava no contexto da presente sessão.
— A droga é que eu os odeio e, no entanto, preciso deles. — Bentworth
abanou a cabeça como se estivesse confuso por sua própria afirmação. — Sei
que isso pode parecer estranho, mas não gosto de ficar sozinho. A pior coisa para
mim é ficar sozinho. Isso me faz beber e o álcool me põe maluco.
Não posso evitá-lo.
— O que acontece? — perguntou Cassi.
— Fico sempre numa situação difícil. Jamais falha. Um maricas me vê e
pensa que eu sou um garanhão, vem até mim e começa a falar comigo. Eu acabo
dando uma surra no cara. Foi uma coisa que o exército me ensinou. Como lutar
com minhas mãos.
Cassi se lembrava de ter lido que tanto os fronteiriços quanto os narcisistas
queriam se proteger de impulsos homossexuais. A homossexualidade podia ser
um campo potencialmente fértil para futuras sessões, mas no momento ela não
queria se intrometer em áreas por demais sensitivas.
— E quanto ao seu trabalho? — perguntou Cassi para mudar de assunto.
— Se quer saber a verdade, estou cansado de estar no exército. No início eu
gostava da competição. Mas agora que sou um coronel, isso passou. Cheguei ao
fim. E não vou fazer força para chegar a general, porque muita gente tem inveja
de mim. Não há mais disputas. De cada vez que entro no consultório
experimento esta sensação de vazio... como, de que adianta?
— Uma sensação de vazio? — ecoou Cassi.
— Sim, vazio. Sinto a mesma coisa depois de viver com uma mulher durante
alguns meses. No princípio é intenso e excitante, mas sempre acaba irritando.
Fica vazio. Não sei como explicar isso.
Cassi mordeu o lábio.
— O relacionamento ideal com uma mulher — disse Bentworth — deve ser
de um mês. Depois... puf! ... ela deve desaparecer e outra tomar o seu lugar. Isto
seria perfeito.
— Mas o senhor foi casado.
— Sim, fui casado. Mas só durante um ano. Estive a ponto de matar a puta.
Tudo o que ela fez foi se queixar.
— O senhor vive com alguém agora?
— Não. E é por isso que eu estou aqui. Um dia antes de me pegarem, ela deu
o fora. Eu só a conhecia há algumas semanas, porém ela conheceu um outro cara
e foi embora. Eis por que quero passar o fim de semana fora daqui. Ela ainda
tem a chave do meu apartamento. Receio que ela possa me fazer uma limpeza.