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— Eu compreendo. Só que o momento não é bom.
— Nunca o momento é bom para uma cirurgia — disse o Dr. Obermeyer —
exceto para o cirurgião. Deixe-me programar isso e tocar para a frente.
— Tenho que discutir o assunto com Thomas — disse Cassi.
— Como? — Interrogou surpreso o Dr. Obermeyer. — Você não falou a ele
sobre isso?
— Oh, sim — retrucou Cassi rapidamente. — Apenas não quanto à data.
— Quando você pode discutir a data com Thomas? — perguntou o Dr.
Obermeyer com resignação.
— Breve. De fato, esta noite. Voltarei a vê-lo amanhã, prometo.
Ela saltou da cama e pôs-se de pé. Ficou aliviada de fugir ao oftalmologista.
Bem lá no fundo ela sabia que ele estava certo; ela devia se submeter à
vitrectomia. Mas ia ser difícil dizer a Thomas. Cassi parou no fim do corredor do
quinto andar do Edifício Profissional, o mesmo edifício onde Thomas tinha seu
consultório, e ficou contemplando por uma janela o panorama da cidade no
início de dezembro, com suas ruas ladeadas de árvores sem folhas e densamente
repletas de prédios de tijolos.
Uma ambulância gritava pela Commonwealth Avenue, com as luzes
piscando. Cassi fechou o olho direito e a cena se desvaneceu para ser substituída
por uma simples luz. Em pânico, reabriu o olho para deixar retornar o mundo.
Ela precisava fazer alguma coisa. Ela precisava falar com Thomas, apesar das
dificuldades nascidas entre eles desde que visitara Patricia.
Cassi desejou que jamais tivesse havido o sábado de duas semanas atrás. Se
ao menos Patricia não tivesse telefonado para Thomas... Mas claro que isso seria
pedir demais. Esperando que Thomas chegasse em casa zangado, Cassi ficou
chocada quando ele nem veio. Às 10h30, Cassi finalmente ligou para o centro
telefônico. Só então soube que Thomas havia tido uma operação de urgência.
Deixou-lhe um recado para ligar para casa e esperou até as duas horas, acabando
por adormecer com o livro na mão e as luzes acesas. Por fim, Thomas chegou
em casa na tarde de domingo e, em vez de gritar com ela, simplesmente recusouse
a falar. Com calma deliberada, ele passou suas roupas para o quarto de
hóspedes próximo ao seu estúdio.
Para Cassi, o "tratamento pelo silêncio" constituía uma tensão insuportável.
Por menor que fosse a conversa que entabulavam, tudo eram coisas sem
importância. No jantar era pior e várias vezes, pretextando dor de cabeça, Cassi
levava uma bandeja para o seu quarto.
Depois de uma semana, Thomas finalmente explodiu com raiva. O agente
desencadeador tinha sido insignificante; Cassi havia deixado cair um copo
Waterford no chão aladrilhado da cozinha. Foi quando Thomas avançou contra