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— Eu adorava — respondeu Cassi.
— Espero que não tome isso como um insulto — riu Joan. — Mas você não
se parece nada com qualquer patologista que eu conheça.
— É a história de minha vida. Primeiro ninguém acreditava que eu fosse uma
estudante de medicina, depois disseram que eu era jovem demais para ser
médica e, na noite passada, o Coronel Bentworth foi bondoso o bastante para me
dizer que eu não parecia uma psiquiatra. Que é que você acha que eu pareço?
Joan não respondeu. A verdade era que Cassi parecia-se mais com uma
dançarina ou modelo do que com uma médica.
Elas se juntaram à multidão em frente à fileira de elevadores que serviam ao
Scherington, o principal edifício do hospital, que era um lamentável erro
arquitetônico. Às vezes, tinha-se de esperar 10 minutos por um elevador e depois
parar em cada andar.
— O que fez você mudar de residência? — perguntou Joan e se arrependeu
assim que a pergunta saiu de seus lábios.
— Você não precisa responder. Não pretendo ser intrometida. Acho que é a
psiquiatra que existe em mim.
— Não há nada de mais — disse Cassi tranquilamente.
— E, na verdade, é muito simples. Eu tenho diabetes juvenil. Ao escolher a
minha especialidade médica, tive de manter aquela realidade em mente. Tentei
ignorá-lo, mas é um handicap definitivo.
O constrangimento de Joan aumentou com a franqueza de Cassi. Contudo,
por mais desconfortável que se sentisse, Joan achou que seria pior não responder
à sinceridade de Cassi.
— Eu devia ter pensado que, sob as circunstâncias, a patologia teria sido
uma escolha muito boa.
— No início eu também achei — disse Cassi. — Mas infelizmente, durante o
ano passado, comecei a ter distúrbios com meus olhos. Para ser franca, no
momento só posso distinguir o claro e o escuro com meu olho esquerdo. Tenho
certeza de que você sabe tudo sobre a retinopatia diabética. Não sou uma
derrotista, mas se o pior se tornasse pior, eu poderia praticar a psiquiatria,
mesmo que me tornasse cega. O mesmo não se aplica à patologia. Vamos, vamos
pegar o primeiro elevador.
Cassi e Joan entraram precipitadas no elevador. A porta fechou-se e elas
começaram a subir.
Há muitos anos que Joan não se sentia tão desconfortável, mas achava que
tinha de responder.
— Há quanto tempo você sofre de diabetes? — perguntou ela.
A simples questão fez Cassi retroceder no tempo, para quando estava com