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que seria infinitamente mais apropriado se ele, Dr. Thomas Kingsley, fosse o
chefe. Afinal de contas, ele realizava a maior parte das cirurgias, graças a Deus.
Era ele, mais do que qualquer outra pessoa, que tinha feito do Boston Memorial
o lugar para se fazer qualquer cirurgia cardíaca. Até a revista Time o dissera.
Contudo, Thomas não sabia se ainda queria ser chefe. Houve um tempo em
que era tudo o que desejava. Tinha sido uma de suas forças propulsoras,
empurrando-o para que se dedicasse a maiores esforços e sacrifícios pessoais.
Havia parecido parte de um progresso natural e os colegas começaram a falar a
respeito quando ele ainda era um bolsista. Mas isso ocorrera alguns anos atrás,
antes que toda a merda administrativa erguesse sua medonha cabeça e mostrasse
o quanto podia interferir em sua clínica.
Thomas parou de se vestir e ficou com o olhar fixo, distante. Sentia um vazio
dentro de si; saber que um de seus objetivos há muito perseguido não era mais
potencialmente atraente deprimia, em especial quando o objetivo estava em suas
mãos. Talvez não houvesse para onde ir... talvez ele houvesse atingido o seu
apogeu. Meu Deus, que pensamento terrível!
— Estou terrivelmente triste ao saber de sua mulher — disse Larry, enquanto
se sentava para calçar os sapatos. — É realmente uma vergonha.
— O que você quer dizer? — perguntou Thomas, pronunciando cada palavra
com deliberada precisão. Ele considerou uma imediata ofensa que um
subordinado como Larry se julgasse tão familiar.
Larry, ignorando a resposta de Thomas, inclinou-se para amarrar os sapatos.
— Estou me referindo ao diabetes e ao problema de visão. Ouvi dizer que ela
vai ter que se submeter a uma vitrectomia. Isso é terrível.
— A cirurgia ainda não está definida — disse Thomas bruscamente.
Sentindo a raiva na voz de Thomas, Larry olhou para cima.
— Eu não queria dizer que seja definitivamente necessária — observou ele.
— Lamento ter tocado no assunto. Deve ser difícil para o senhor. Só espero que
ela se saia bem.
— Minha mulher está perfeitamente bem — disse Thomas, zangado. —
Além do mais, não acho que a saúde dela seja de sua conta.
— Lamento.
Seguiu-se um silêncio desconfortável, enquanto Larry rapidamente acabava
de atar os sapatos. Thomas deu o laço na gravata e espargiu água-de-colônia
Yves St. Laurent com movimentos rápidos e irritados.
— Onde você ouviu falar disso? — perguntou Thomas.
— De um residente da patologia — retrucou Larry. — Robert Seibert.
Larry trancou seu armário e disse a Thomas que estaria na sala de
recuperação, se fosse necessário.