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Thomas foi não porque tivesse ordens de fazê-lo, mas porque se tornara
imprescindível à comissão de admissão ao departamento de cirurgia cardíaca.
Thomas se esforçava em não pensar na situação porque, sempre que o fazia,
ficava furioso.
— Dr. Kingsley — chamou uma voz rouca, interrompendo os pensamentos
de Thomas.
Priscilla Grenier, a autoritária diretora do Centro Cirúrgico acenava com uma
caneta para ele. Thomas dava-lhe o crédito de ser uma árdua trabalhadora e
durante várias longas horas. Não era um piquenique manter as 36 salas de
operações do Boston Memorial funcionando suavemente. No entanto, não podia
tolerar quando ela se insinuava em seus negócios, algo que Priscilla parecia
impaciente por fazer. Ela sempre tinha uma ordem ou uma instrução.
— Dr. Kingsley — disse Priscilla. — A filha do Sr. Campbell está na sala de
espera e o senhor deve ir vê-la antes de mudar de roupa. — E, sem esperar uma
resposta, Priscilla voltou para sua escrivaninha.
Com dificuldade, Thomas conteve seu aborrecimento e continuou a andar
pelo corredor, sem tomar conhecimento do comentário. Um pouco da euforia
que sentira na sala de operações o abandonara. Mais tarde, encontrou prazer em
cada sucesso cirúrgico crescentemente fugaz.
No início, achou que devia ignorar Priscilla, trocar de roupa e depois parar
para ver a filha do Sr. Campbell. Contudo, persistia o fato de que ele se sentia
obrigado a permanecer com suas roupas cirúrgicas até que o Sr. Campbell tivesse
alcançado a sala de recuperação, para o caso de surgirem complicações
imprevistas.
Abrindo violentamente a porta que dava para a sala cirúrgica, Thomas parou
junto à estante dos casacos e procurou por um longo avental branco para pôr
sobre suas vestes cirúrgicas. Ao puxá-lo, pensou nas desnecessárias frustrações
que era obrigado a suportar. Definitivamente, a qualidade das enfermeiras tinha
caído muito. E Priscilla Grenier! Parecia como se apenas ontem aquela gente
conhecesse o seu lugar. E as conferências compulsórias das sextas-feiras... Meu
Deus!
Distraidamente, Thomas desceu para a sala de espera. Era um adendo
relativamente novo ao hospital, que havia sido construído de um velho depósito.
À medida que crescia o número de operações de pontes de safena realizadas pelo
departamento, ficara decidido que devia haver uma sala especial próxima, onde
os membros da família permaneceriam até que as pessoas queridas saíssem do
Centro Cirúrgico. Havia sido ideia de um dos administradores assistentes e
transformou-se numa mina de ouro para as relações públicas.
Quando Thomas entrou na sala, elegantemente decorada com paredes azuis