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Cassi imaginava qual devia ser o estado de espírito de Thomas. Depois do modo
pelo qual ele procedera no carro, combinado com a implicância de Patricia, ela
esperava o pior. Mas assim que entrou no quarto, sentiu-se imediatamente
aliviada. Thomas estava sentado atravessado de lado, com as pernas jogadas por
cima de um dos braços da poltrona, um drinque numa das mãos e a revista
médica na outra. Tinha o aspecto relaxado e uma bela aparência. E, mais
importante, estava sorrindo.
— Espero que você e mamãe tenham-se mantido cordiais — disse ele,
arqueando as sobrancelhas como se houvesse uma chance de ter ocorrido o
oposto. — Desculpe a minha súbita saída, mas a velha estava a ponto de me pôr
maluco. Eu não queria fazer uma cena. — E Thomas piscou os olhos.
— Você é tão previsivelmente imprevisível — disse Cassi, sorrindo. — Sua
mãe e eu tivemos uma conversa das mais interessantes. Thomas, eu nunca soube
do seu pé torto. Por que não me contou?
Ela sentou-se no braço da poltrona, obrigando-se a girar para assumir uma
posição normal. Ele não respondeu, concentrando-se em seu drinque.
— Não é importante — disse Cassi — mas sou uma perita em doenças
infantis. Acho reconfortante partilharmos essa experiência. Penso que nos dá um
grau especial de compreensão.
— Não posso me lembrar de nada sobre um pé torto — disse Thomas. —
Tanto quanto sei, nunca tive um. Toda essa história não passa de uma elaborada
ilusão de minha mãe. Ela quer que se fique impressionado com o sofrimento que
experimentou para me educar. Olhe para meus pés: eles parecem deformados?
Thomas descalçou os sapatos e ergueu os pés.
Baixando o olhar, Cassi teve de admitir que ambos pareciam inteiramente
normais. Ela sabia que Thomas não tinha problemas para andar e que fora uma
espécie de atleta no colégio. Mas ainda não tinha a certeza de quem falava a
verdade.
— Parece inacreditável que sua mãe possa fazer uma coisa dessas. — Seu
tom era mais o de uma pergunta do que o de uma afirmação, porém Thomas o
tomou como este último.
Atirando a revista médica no chão, ele pulou sobre seus pés, quase jogando
Cassi ao chão.
— Escute, a mim pouco se me dá em quem você acredita — disse. — Meus
pés são ótimos, sempre o foram, e não quero ouvir mais nada sobre pés tortos.
— Muito bem, muito bem — disse Cassi, acalmando a situação. — Com um
olhar profissional, ela observou o marido, notando que seu equilíbrio era
ligeiramente instável quando se excedia em simples movimentos que requeriam
sutis reajustamentos. E isso não era tudo. Sua pronúncia era quase