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cadeira.
— Eu tenho comido sozinha há dois dias — queixou-se Patricia. — Preciso
de um pouco de contato humano.
— Então eu não sou humana, não é? — disse Harriet, aborrecida. —
Finalmente a verdade apareceu.
— Você sabe o que quero dizer, Harriet — retrucou Patricia com um aceno
de mão.
Harriet revirou os olhos e começou a servir a comida.
— Thomas, quando é que você vai cortar seu cabelo? — disse Patricia.
— Assim que eu tiver um tempo extra — retrucou Thomas.
— E quantas vezes eu tenho de lhe dizer para pôr seu guardanapo no colo?
— continuou Patricia.
Thomas tirou o guardanapo do porta-guardanapo de prata e jogou-o no colo.
A Sra. Kingsley pôs um bocadinho de comida na boca e começou a mastigar.
Seus brilhantes olhos azuis, semelhantes aos de Thomas, percorreram a mesa,
acompanhando os deslocamentos de Harriet, esperando pelo menor deslize.
Patricia era uma senhora de cabelos brancos, de boa aparência, com uma vontade
de ferro. Havia fumado Lucky Strikes durante anos e tinha profundas rugas que
saíam de sua boca como os raios de uma roda. Vivia obviamente isolada e
continuamente Cassi se punha a imaginar por que a mulher não se mudava para
um lugar onde tivesse amigos e amigas de sua própria idade. Cassi sabia que
aquele pensamento era motivado por seus próprios interesses. Depois de jantar
por quase mais de três anos com Patricia, Cassi ansiava por um fim de dia mais
romântico. Apesar de seus fortes sentimentos nesse sentido, Cassi nunca disse
nada. A verdade da questão é que Cassi sempre se intimidara com esta mulher e
receava magoá-la, para não incorrer na raiva de Thomas.
Ainda assim, Cassi se dava muito bem com a Sra. Kingsley, pelo menos do
ponto de vista de Cassi, e ela sentia pena da mulher, que vivia em parte
nenhuma, no meio do nada, por cima da garagem de seu filho.
Após Harriet ter servido, o jantar prosseguiu em silêncio, quebrado apenas
pelo tilintar dos talheres batendo de encontro aos pratos e dos murmúrios de
Harriet, que tentava irritar todo mundo. Só depois de quase terminado o jantar,
foi que Thomas quebrou o silêncio:
— Minhas operações correram bem hoje.
— Não quero ouvir falar em mortes e doenças — disse a Sra. Kingsley.
Depois, voltou-se para Cassandra e falou: — Thomas é como o pai dele, sempre
querendo discutir seus negócios. Nunca soube falar sobre alguma coisa
importante ou cultural. Às vezes eu penso que teria ficado melhor se nunca me
tivesse casado.