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A BRUXA DO MONTE CÓRDOVA

Untitled - Luso Livros

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Mês e meio assistiu frei jacinto de deus à cabeceira de Angélica. Pôde ele criarno espírito da enferma a imagem do céu; depois a da esperança; a morte comotransformação para a vida infinita; a reunião das almas santificadas pela agoniaterreal; a consciência dos espíritos de além-mundo em coisas deste; a memóriae constante visão dos entes queridos que ficaram aquém dos áditos daeternidade, esperando redimirem-se.O monge tinha créditos de santo no ânimo de Angélica. Chamava-lhe filha, eajoelhava à beira da sua cama, pedindo a deus que lhe demorasse o dormir dascruelíssimas noites. Espertava Angélica, e via as cãs do anciã o encostadas aoseu travesseiro. O santo dormia, e ela apertava na garganta os gemidos para onão acordar.À crise perigosa sucedeu a oração. Passava o mais das horas nas igrejasdesertas. Naquele tempo a cristandade portuense amortecera. Cheirava o ar àsangueira: quem se afez àquilo respirava mal o fragrante incenso dos templos.As viúvas e órfãos dos mortos nas trincheiras não encontravam ninguém queos mandasse pedir remédio a deus. Deus!, para quê? Não sabia já o gentio queos conventos, cruzes e deus ia tudo acabar? E que, vencedora a civilização, sóteriam fome os vencidos? A heroica plebe acanalhava assim o progresso.Depois é que se viu que o progresso, em verdade, não ia longe disso.Recolhamo-nos, ao ponto. Já confiado frei jacinto na resignação de Angélica,falou assim:

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