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A BRUXA DO MONTE CÓRDOVA

Untitled - Luso Livros

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— Vá-se embora, homem... Deixe-me! Ousou ele, já enfadado e vexado daresistência, ameaçá-la de nunca mais ver frei Tomás. Angélica, abraseada emcólera, olhou à volta de si e exclamou:— Estou aqui nada a dar-lhe com uma pedra na cara. Vá-se com deus oucom o diabo, e não me apareça mais!O monge negro balbuciou algumas palavras com afetada paciência, e retirouseno seu trajo de taful caçador.A vergonhosa repulsa não valeu a cicatrizar-lhe a chaga cada hora maisapostemada. Confidenciou aos parentes e sócios das suas manhas o êxitoinfausto da tentativa. Disseram-lhe que a rapariga era inexpugnável: o mesmofoi ervar-lhe os acicates do amor. O frade raivava; chorar não podia; que aslágrimas não se apuram de sangue empestado por desejos bestiais.Lembraram-lhe histórias dos seus avoengos — umas histórias que as crónicasnão contam: raptos, violências, escaladas às alcovas maritais, desonraschatinadas com alguns punhados de ouro pirateados na Ásia e África; enfim,lembrou-se que era raça de abreus e limas, recheados de costelas reais.Ia já alto o dia da civilização. Vinham tardias ao filho do marquês as memóriasfeudais dos seus avós: é que o estúpido frade não vira as alvoradas do século,saudadas pela revolução de 1820. Lá dentro do mosteiro era ainda noitefechada. Hipócritas, fanáticos e virtuosos tanto sabiam uns como outros davida nova do século. Os últimos choravam de boa fé, atribuindo aos segundos

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