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A BRUXA DO MONTE CÓRDOVA

Untitled - Luso Livros

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Angélica afligia-se com tanta prosperidade, falando humanamente; as delíciasdivinas da pobre eram o chão duro, a fome mordente, o frio congelador.Começaram a procurá-la as doentes da alma e do corpo. Era ano aquele deextraordinária invasão de demónios nos sujos corpos das raparigas dosarredores, em virtude de, no ano antecedente, haverem casado duasenergúmenas, cujos diabos tinham fugido, logo que os pais consentiram queelas casassem com outros mais imundos: o que diz em abono do pundonorafidalgado dos primeiros, que tinham sido algum dia asseados anjos.Com este exemplo, raras casas ficaram sem uma possessa no ano seguinte. Eo mais é que souberam enganar a boa-fé e ciência demonífuga de Angélica.Algumas das obsessas tinham todos os característicos infernais assinados porbrognolo e pelo arrábido; outras tinham os principais. As endiabradas saíamdespejadas do satânico recheio das mãos da exorcista, umas para casarem,outras para levarem valente bordoada dos pais que, a um tempo, pensavamvingar-se delas e do diabo. Tal foi a iniciação da penitente no monte Córdova.Bem que não possamos tirar a limpo o contra-senso popular de chamarembruxa à exorcista da serra é sem embargo certo que a nomeada que elacobrou, léguas em volta, era aquela, de todo o ponto inconveniente a umaquebrantadora de influências maléficas, bruxedos e feitiçarias, sendo usual, nonosso pais, dar-se a estas milagrosas criaturas os nomes bem cabidos debenzedeiras, e mulheres de virtude.

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