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40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro

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A RECUPERAÇÃO DO CESSNINHA<br />

Para a recuperação do Cessninha, tinha comprado tudo <strong>no</strong>vo que havia queimado, assim como um<br />

par <strong>de</strong> asas, pneus, estofamento, instrumentos <strong>de</strong> bordo e revisado o resto todo, motor, etc. O Cessninha<br />

ficou <strong>no</strong>vo, na oficina do IPT. Tudo que foi aproveitado foi checado <strong>no</strong> IPT.<br />

Nesse período da reforma do CESSNA, apareceu na revista Seleções, uma reportagem sobre jejum.<br />

Foi o Engenheiro Sílvio que leu e que dizia que jejuar era muito bom para <strong>de</strong>spertar a inteligência. Estava<br />

eu, o Engenheiro Bre<strong>no</strong>, atual diretor da NEIVA e o Dr., Sílvio, o qual era o do<strong>no</strong> da idéia do jejum.<br />

Era um domingo, 10 horas da <strong>no</strong>ite, tínhamos comido uma pizza gran<strong>de</strong> cada um. O Dr. Sílvio<br />

tentando implantar a idéia do jejum. Eu e o Bre<strong>no</strong> concordamos, então fizemos um contrato, voltaríamos<br />

a comer só na quinta-feira às 10 horas da <strong>no</strong>ite.<br />

Bre<strong>no</strong> redigiu o contrato <strong>no</strong> papel do guardanapo. Só era permitido beber água, e por minha<br />

sugestão ficou também permitido um cafezinho <strong>de</strong> vez em quando e assinamos o documento.<br />

Bre<strong>no</strong> morava na casa do Dr. Sílvio e eu estava junto com os dois. De manhã, íamos juntos para o<br />

IPT. Passávamos o dia inteiro na secção. À <strong>no</strong>ite, íamos jogar sinuca. O primeiro dia, uma fome<br />

<strong>de</strong>sgraçada, água e cafezinho. No 2.°dia (terça-feira), água e o cafezinho já não iam bem. Quando bebia<br />

água, sentia todas as curvas que ela fazia lá <strong>de</strong>ntro. No 3.°dia (quarta-feira), a água e café não ia mais.<br />

Sentado na oficina, o telhado parecia estar balançando. Estava co medo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer as escadas. Não sabia<br />

mais se estava subindo ou <strong>de</strong>scendo. Saímos os três <strong>de</strong> carro, íamos comprar qualquer coisa <strong>no</strong> Bom<br />

Retiro e ficamos retidos <strong>no</strong> trânsito atrás <strong>de</strong> um caminhão que estava carregando ossos <strong>de</strong> um açougue.<br />

Eu olhava aquelas costelas com uns fiapos <strong>de</strong> carne, saia água da boca. O cafezinho não ia mais <strong>de</strong> jeito<br />

nenhum, um so<strong>no</strong> terrível, não tinha dormido nada. Começava a pegar <strong>no</strong> so<strong>no</strong>, sonhava com comida, via<br />

aqueles franguinhos torradinhos virando <strong>de</strong> pernas para o ar.<br />

Nós não largávamos um do outro. Às vezes, nós ficávamos olhando para o outro a espera da or<strong>de</strong>m:<br />

vamos comer. Ninguém se abria pela dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> machão que existia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada um. À <strong>no</strong>ite fomos<br />

jogar sinuca. O Dr. Silvio <strong>de</strong>bruçou em cima da mesa e queria comer as bolas vermelhas. Dizia ele que<br />

era tomate. Isto era <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>, ali na Avenida São João. Comida tinha para todos os lados, mas<br />

aquilo não era mais fome, era coisa esquisita, uma doença. Tudo per<strong>de</strong>u a graça, não ia mais cigarros,<br />

água, cafezinho. Quando eu me lembrei <strong>de</strong> por <strong>no</strong> contrato o cafezinho, eu pensava que o café ia tirar a<br />

fome e como eu estava enganado.<br />

Acabamos a partida <strong>de</strong> sinuca que não sei quanto tempo levou. Precisava ir para a casa dos pais do<br />

Dr. Sílvio, para ir dormir. Era bobagem, só se fosse para ficar na horizontal porque dormir não ia. Era só<br />

começar a fechar os olhos, já aparecia os franguinhos assados, ou aquelas e<strong>no</strong>rme mesas <strong>de</strong> banquetes,<br />

aquelas pizzas fumegantes.<br />

A reportagem da Seleções dizia que o jejum aguçava a inteligência. Eu não vi nada, o que aguçou<br />

mesmo foi o olfato, sentia o cheiro <strong>de</strong> comida a uns 10 quilômetros.<br />

Nenhum dos três dormiu essa <strong>no</strong>ite. Levantamos, era difícil ficar em pé. Tomamos um cafezinho,<br />

êta coisinha ruim. Fomos para o IPT, quinta-feira, último dia do contrato, mas íamos comer só às 10<br />

horas da <strong>no</strong>ite. Foi o dia mais comprido da minha vida, não tinha jeito <strong>de</strong> ficar, fome, tontura, so<strong>no</strong>, bebia<br />

água, sentia todo o trajeto que ela fazia lá por <strong>de</strong>ntro. Eu sentia que faltava uma consistência na água.

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