40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
VOLTA AO SHOW<br />
300 metros <strong>de</strong> altura acerto o BUCKER bem em cima da pista, um pouco mais para frente, para que a<br />
passagem em baixo do looping invertido seja bem em frente ao público. Tudo certo. Um cheque rápido<br />
<strong>no</strong>s cintos <strong>de</strong> segurança, que agora vão ter uma responsabilida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>. Reduzo o motor, espero a<br />
velocida<strong>de</strong> cair um pouco para a circunferência da ma<strong>no</strong>bra não ser muito gran<strong>de</strong> e nem po<strong>de</strong> ser senão<br />
não passa lá embaixo. Cedo a mão para frente, o BUCKER <strong>de</strong>sce quente. Estou na vertical, a velocida<strong>de</strong><br />
aumenta rápido. Manche mais para frente, entro para a carga negativa. Não há mais alternativa nenhuma,<br />
a não ser ir em frente empurrando mais o comando. O G negativo vem pesado, o chão pertinho, não dá<br />
para avaliar a altura certa que estou do chão, só sei que vou passar bem rasante à pista. Estou na<br />
horizontal, continuo a segurar a pressão <strong>no</strong> manche para frente. O motor dispara 3.000 giros por minuto,<br />
ouço o cantar da hélice, estou na vertical subindo. A velocida<strong>de</strong> cai mais <strong>de</strong>pressa do que aumentou<br />
quando estava <strong>de</strong>scendo. Nos últimos 90° da ma<strong>no</strong>bra, a velocida<strong>de</strong> é pequena. O manche está todo na<br />
frente – não se tem referência – o avião faz um total ângulo morto <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong> com a trajetória da<br />
ma<strong>no</strong>bra, enquanto não aparece o horizonte. Isso <strong>de</strong>mora para o piloto acrobata uma verda<strong>de</strong>ira<br />
eternida<strong>de</strong>.<br />
O horizonte chega – fator <strong>de</strong> carga zero – o motor não gosta <strong>de</strong>sta situação e dá sua clássica<br />
pipocadinha, afirmando logo que a situação se <strong>de</strong>fine para fator carga positivo. Seguro o nariz em ângulo<br />
forte <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida. Mantendo o ângulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida viro <strong>no</strong> dorso até rente ao chão outra vez. Para fazer mais<br />
meio looping invertido agora <strong>de</strong> baixo para cima. Capricho <strong>no</strong> rasante para o máximo rente ao chão, não<br />
dá tempo <strong>de</strong> olhar para o velocímetro, mas ouço o zumbido do estaiamento o qual me transmite que a<br />
velocida<strong>de</strong> está <strong>no</strong> ponto exato para empurrar o manche para frente. O G negativo <strong>no</strong>vamente vem<br />
quente, 4 ou 4 e meio. Estou subindo a todo motor, a hélice canta outra vez, o manche está todo na frente,<br />
não se tem nenhuma referência. Os cintos <strong>de</strong> segurança entram em cena – mais umas cortadas <strong>no</strong> corpo,<br />
estou subindo, preciso manter uma dosagem contínua <strong>de</strong> pressão <strong>no</strong> manche para frente, <strong>de</strong> acordo com a<br />
diminuição da velocida<strong>de</strong>. Estou muito baixo para correr o risco <strong>de</strong> um estol <strong>de</strong> badalo. Nesta altura do<br />
chão, as conseqüências serão caras. O manche já está <strong>no</strong> batente, o BUCKER amolece, o G vem à zero,<br />
fico em órbita por algumas frações <strong>de</strong> segundos. O horizonte aparece bem nivelado com as asas, saiu<br />
tudo perfeito. Tenho altura suficiente, prossigo um pouco em vôo <strong>no</strong>rmal para o motor se recuperar na<br />
lubrificação. Agora o nariz para baixo para aumentar a velocida<strong>de</strong>. Pretendo fazer um círculo completo<br />
para a esquerda, fazendo um touneau para a direita. 1<strong>40</strong> quilômetros incli<strong>no</strong> para a esquerda como se<br />
fosse uma curva <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> inclinação, com 70ou 80 graus, manche para trás e todo para a direita.<br />
Começa o touneau, quando atingir o horizonte neutralizo o profundor, continuo girando na gran<strong>de</strong><br />
inclinação, o manche todo para frente até o batente. A resistência ao avanço do Bucker nestas condições<br />
com todos os comandos aplicados é muito gran<strong>de</strong>. O motor vai a ple<strong>no</strong> regime, e mesmo assim não<br />
mantém a velocida<strong>de</strong>. Abaixo pouquinho o nariz na medida do possível, a altura é ainda pequena, manter<br />
o nariz em baixo durante essa ma<strong>no</strong>bra não é difícil porque o avião está rolando e há uma mudança<br />
constante da posição dos comandos. No quarto touneau a altura está quase <strong>no</strong> fim. Na entrada do quinto<br />
touneu paro <strong>no</strong> vôo invertido. Duas coisas que me dão segurança: o fim da altura e a velocida<strong>de</strong>.<br />
Capricho para segurar o avião nivelado <strong>no</strong> vôo invertido, motor a ple<strong>no</strong> regime, estou em cima da pista<br />
mantendo a reta por alguns segundos, o público ficou lá para trás, um empurrão <strong>no</strong> manche para frente o<br />
nariz sobe. Desviro para o vôo <strong>no</strong>rmal, parando o giro em gran<strong>de</strong> inclinação <strong>no</strong> vôo invertido para entra<br />
para a perna base. Nivelo o avião e já estou na perna base. Faltam 90°, nesta posição tenho boa<br />
visibilida<strong>de</strong> da cabeceira da pista, tenho ainda uma boa reserva <strong>de</strong> altura, incli<strong>no</strong> outra vez para os últimos<br />
90° para a reta final, que é bem curta. A pista aparece na frente, estou um pouquinho alto, afrouxo um<br />
pouco a pressão do manche, o nariz <strong>de</strong>sce, reduzo um pouco o motor, o chão se aproximando, a<br />
visibilida<strong>de</strong> para frente nessa posição é péssima. Olhando entre as asas se vê muito longe, não se tem<br />
<strong>no</strong>ção exata da altura. No ângulo bom está a asa superior que agora é a asa inferior em razão da posição<br />
do avião que faz um ângulo morto terrível. Preciso olhar por trás da asa, o ângulo é muito forte, o que me<br />
mostra o chão como se fosse uma gran<strong>de</strong> correia numa velocida<strong>de</strong> tremenda. A <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> altura nesta<br />
situação é péssima. Empurro o manche para frente, fico na horizontal rente ao chão, aplico os ailerons<br />
para <strong>de</strong>svirar. A 90° tenho <strong>no</strong>ção exata da altura e que está sobrando um pouquinho, para <strong>de</strong>svirar seguro<br />
o pé <strong>de</strong> cima para dar uma glissadinha, continuo o giro <strong>de</strong> modo que o avião vá para vôo <strong>no</strong>rmal e se<br />
colocando na posição <strong>de</strong> pouso, corto o motor, a velocida<strong>de</strong> está acabando, o BUCKER está quase na<br />
atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> três pontos, mais um pouquinho, uma ligeira placadinha e estou <strong>no</strong> chão.<br />
Entro para o estacionamento, gente que Deus me livre, quantos amigos, quantos abraços, sei lá<br />
quantas mil pessoas eu tinha que alegrar. Nomeio <strong>de</strong> tantas pessoas, tinha duas <strong>de</strong> Rio Claro que valem<br />
para mim por todo aquele povo que me cercava.