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40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro

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FILOSOFANDO<br />

O caçador que com uma espingarda entra <strong>no</strong> mato para matar qualquer coisa que apareça, em<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições com aquilo que ele vai atacar, ou que <strong>no</strong> mesmo local, sobretudo <strong>no</strong> alto, vejo<br />

quanto a natureza é linda. O toureiro que na arena o touro cheio <strong>de</strong> força e ele com a inteligência se<br />

esquiva e acaba enfiando uma espada em seu lombo. Ou eu voando rente ao chão, mas estou numa<br />

máquina que não raciocina nada e que está absolutamente sob meu controle. O domador <strong>de</strong> feras <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> uma jaula po<strong>de</strong> ser atacado pelas costas por uma <strong>de</strong>las, ou eu fazendo looping invertido submetendo a<br />

máquina aos limites da resistência, que estará certo ? O caçador, o toureiro, o domador ou eu ? Todos se<br />

julgam certos, cada um na sua. O homem é um bicho complicado, cada vez se complica mais à medida<br />

que aprecem os meios, a aviação que eu pratico é aquela que o homem sonhou, ser livre, se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r da<br />

terra e não dar mais satisfação a ninguém, lá em cima on<strong>de</strong> tudo que se vê é tão insignificante, esta<br />

aviação que os mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s tratam <strong>de</strong> saudosismo. Esta aviação está errada, o rádio trás conforto, mas<br />

amarra o rabo da gente lá <strong>no</strong> chão, <strong>de</strong>saparece o prazer <strong>de</strong> ser solitário quando se está navegando, só<br />

bussola e relógio e um pedaço <strong>de</strong> mapa ruim e uma zona que não tem referência nenhuma, não se sabe o<br />

vento, da esquerda ou direita, se é <strong>de</strong> frente ou <strong>de</strong> cauda, isto causa sempre dúvidas, apreensões: será que<br />

estou <strong>no</strong> rumo certo? Será que é para a esquerda ou a direita ? Mas sempre se vai mantendo o rumo que<br />

calculou lá <strong>no</strong> chão antes da <strong>de</strong>colagem, se aproxima o tempo estimado, começa a observação, 90° para a<br />

direita, 90° para a esquerda, o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>de</strong> chegada <strong>de</strong>ve aparecer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse ângulo <strong>de</strong> 180°. Lá longe<br />

aparece algo parecido com qualquer coisa, aponta o seu nariz para aquele lado, aos poucos vai tomando<br />

forma, é o ponto <strong>de</strong> chegada, tem-se um prazer <strong>de</strong> vitória, o prazer <strong>de</strong> ter chegado com uma porção <strong>de</strong><br />

fatores adversos porque não se tinha meios, mas cheguei sem precisar <strong>de</strong> ninguém, quantas vezes cheguei<br />

nunca na reta, umas vezes pela esquerda outras pela direita, outras vezes <strong>de</strong> trás para adiante, algumas<br />

vezes cheguei a lugares que eu não tinha nada que fazer lá, uma vez cheguei a um lugar que me trancaram<br />

na ca<strong>de</strong>ia só porque eu fiz um “dorsinho” na aterragem, outra vez cheguei num lugar com o Corpo <strong>de</strong><br />

Bombeiros chegando atrás, eles pensaram que eu ia aterrar com as rodas para cima. Outra vez cheguei<br />

numa praia, um temporal violento, já escurecendo, a praia era <strong>de</strong>serta, tinha só uma casinha branca, aterro<br />

na frente da casinha, encosto o avião nas dunas <strong>de</strong> areia para proteger do vento, o mundo <strong>de</strong>saba em<br />

AGU, escurece totalmente, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma porção <strong>de</strong> tempos a chuva cessou, escuridão total, com<br />

dificulda<strong>de</strong>s eu vi a casinha em cima da praia, saí do avião e fui para o lado da casa, está muito escuro,<br />

não consigo acesso à casa, com sacrifício subi a duna <strong>de</strong> areia e cheguei à mesma, está fechada, bati não<br />

houve resposta, tento dar a volta por trás, está escuro e não enxergo nada, me enrosco num pau. Risquei<br />

um fósforo, estou enroscado em uma cruz, mais fósforos, é uma porção <strong>de</strong> cruzes. Procuro votar para a<br />

frente da casa, em cima da porta uma e<strong>no</strong>rme cruz. Caí na dura realida<strong>de</strong>, isto é um cemitério. Me<br />

arranquei dali meio <strong>de</strong>pressinha e fui para o avião, <strong>de</strong>colar não dava com aquela escuridão, a maré estava<br />

muito alta, a água chegava pertinho do trem do avião, o jeito foi dormir <strong>de</strong>ntro do avião e <strong>de</strong>colar <strong>de</strong><br />

madrugada. Será que isto e saudosismo ou era gostoso mesmo ? Quantos comandantes <strong>de</strong> BOIENG tem<br />

uma inveja danada <strong>de</strong> mim por pertencer ainda a essa aviação que a gente faz tudo, tira pane, reabastece,<br />

carrega, <strong>de</strong>scarrega, guarda <strong>no</strong> hangar, tira do hangar, não pergunta a ninguém se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>colar ou aterrar,<br />

voa <strong>no</strong> nível que quer com a cara <strong>de</strong> fora, em contato direto com os elementos. Quantas vezes eu já voei<br />

na cabine <strong>de</strong> BOIENG, fico maravilhado com tudo aquilo, radar, instrumentos que dão sua localização<br />

certa, piloto automático, velocida<strong>de</strong> que Deus me livre, tudo maravilhoso, mas chance em caso <strong>de</strong> pane,<br />

muito remota, <strong>no</strong> fim da viagem já estou satisfeito, na volta se <strong>de</strong>ssem para escolher o BOIENG ou um<br />

bipla<strong>no</strong> eu votaria <strong>no</strong> segundo, nem que fosse para voar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> grotas e pulando árvores e sempre com<br />

dúvidas dos lugares on<strong>de</strong> estou, a aviação mo<strong>de</strong>rna tem também umas panes mo<strong>de</strong>rnas e os lugares <strong>de</strong><br />

pouso <strong>de</strong> emergência são muito antigos, não servem. Uma coisa me conforta muito quando leio em<br />

revista, quanta gente ainda conserva o bipla<strong>no</strong>. Quantos bipla<strong>no</strong>s ainda são construídos na Europa,<br />

América do Norte, os bipla<strong>no</strong>s têm uma porção <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagens em qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vôo, mas em<br />

compensação ele po<strong>de</strong> ter uma construção leve e forte, as duas asas treliçadas entre si com os estais dão a<br />

resistência estrutural tremenda, geralmente os bipla<strong>no</strong>s anda pouco por causa da resistência ao avanço que<br />

aquela traquitana toda oferece, mas eles chegam também. O BUCKER PP-TEZ chegou em todos os<br />

lugares do Brasil e mais alguns outros. A aviação coisa tão fácil, mas leva a<strong>no</strong>s para se apren<strong>de</strong>r alguma<br />

coisa, a gama é tão larga que à medida que os a<strong>no</strong>s vão passando a gente sente que não sabe nada.

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