40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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Manche mais para frente, empurro a manete a ple<strong>no</strong> o motor zune atingindo o limite <strong>de</strong> giro 3.300 RPM,<br />
estou na vertical da cara para as nuvens, entro nas mesmas, não tenho <strong>no</strong>ção nenhuma do jeito que estou,<br />
o motor pipoca, a velocida<strong>de</strong> acabou, não enxergo nada, o motor continua dando bronca, não tem<br />
instrumento nenhum que me oriente, procuro por o nariz para baixo para o motor não parar, sei que tenho<br />
200 metros <strong>de</strong> teto, minha preocupação é sair em baixo mais ou me<strong>no</strong>s direito, a pista aparece direitinho<br />
em baixo, começo um touneau <strong>de</strong>scendo para terminar rente ao chão. “Preciso dormir e o so<strong>no</strong> não vem”,<br />
mais uma viradas na cama: “ quando eu era meni<strong>no</strong> e estava em cima da carroceria do caminhão, meu pai<br />
dirigia, tinha na carroceria uma telha <strong>de</strong> zinco, peguei a mesma e comecei a brincar, o caminhão corria e o<br />
vento era forte, em <strong>de</strong>terminados ângulos em que a folha ficava, eu fazia uma força para segurar a mesma,<br />
<strong>de</strong> repente um ângulo maior ou uma rajada <strong>de</strong> vento, sei lá, só sei que voei <strong>de</strong> cima do caminhão, em<br />
ple<strong>no</strong> vôo me livrei da folha <strong>de</strong> zinco e me esmerilhei todo <strong>no</strong> chão, meu pai não viu nada e continuou a<br />
viagem, só lá em casa é que achou falta da folha <strong>de</strong> zinco e <strong>de</strong> mim. Ele não tinha a me<strong>no</strong>r idéia do que<br />
tinha acontecido e veio <strong>de</strong> volta pela estrada à minha procura. Lá longe já me viu todo esfolado vindo à<br />
pé com o zinco nas costas. Meu pai era italia<strong>no</strong>, foi logo dando o prefixo – “Porca Madona, o que é que<br />
você fez ? “. Meu primeiro aci<strong>de</strong>nte aéreo. Preciso tanto dormir e a minha cabeça pensa tanto em<br />
bobagens... Portugal me disse que íamos para a América do Norte fazer lá <strong>no</strong> meio daqueles malucos que<br />
tem mania do looping quadrado e <strong>de</strong> touneau rápido com excesso <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>, ma<strong>no</strong>bra que só<br />
<strong>de</strong>monstra resistência estrutural do avião e o apetite do piloto em agüentar Gs, eu não sou <strong>de</strong>sse gênero,<br />
eu sou <strong>de</strong> ma<strong>no</strong>bra harmoniosa, acrobacia –música, acrobacia <strong>de</strong>ve ter uma duração a cada ma<strong>no</strong>bra,<br />
como se a gente mastigasse algo muito gostoso e perdurasse o máximo <strong>de</strong> tempo sentindo aquela coisa.<br />
O BUCKER predomi<strong>no</strong>u em acrobacias em muitos a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> mundo inteiro enquanto acrobacia era música,<br />
mas era preciso <strong>de</strong>stronar o BUCKER, então inventaram essas ma<strong>no</strong>bras absurdas que <strong>de</strong> bonito não tem<br />
nada, entrar numa competição <strong>de</strong>ssas com o BUCKER seria a mesma coisa que uma garota linda <strong>de</strong> morrer<br />
entrar num rinque <strong>de</strong> boxe e enfrentar um brutamontes. Acordo <strong>de</strong> manhã e a primeira coisa é checar o<br />
tempo, está bom, parte do céu está azul, ainda bem, um banho quente, um café reforçado, Portugal<br />
aparece está contente “vamos embora ,véio”, positivo, um táxi para o campo. Tirei o BUCKER do hangar,<br />
uma rápida inspeção, reabasteço total <strong>de</strong> gasolina e óleo, o pátio <strong>de</strong> ma<strong>no</strong>bras está todo sujo <strong>de</strong> papel e<br />
latas amassadas, coisas próprias <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> festas, embarco na nacele, procuro acertar os arreios do páraquedas,<br />
está tudo meio meloso, úmido, os cintos <strong>de</strong> segurança estão úmidos, parece que encolheram.<br />
Portugal me ajuda, tudo pronto, checado. Portugal vai para a hélice, livre ?, livre, ele vai girando a<br />
hélice e eu comprimo o Primer, ok ?, ok, contato !, contato ... O motor funciona <strong>no</strong> primeiro lance, me<br />
<strong>de</strong>speço do Portugal, pois vamos em rumos opostos, ele vai para o Rio e eu para São Paulo. Táxi até o<br />
fim da pista, cheque <strong>de</strong> cabeceira, tudo em or<strong>de</strong>m, reta final livre, entro na pista, motor a ple<strong>no</strong>, o BUCKER<br />
ganha velocida<strong>de</strong>, tiro as rodas do chão, consulto o relógio são 9 horas, faço curvas para acertar o rumo<br />
para Volta Redonda, 245°. O tempo não é lá gran<strong>de</strong>s coisas, lá longe na frente tem nuvens baixas, não<br />
adianta subir. Morros por todos os lados, alguns <strong>de</strong>les enfiados nas nuvens, a coisa se complica, é preciso<br />
baixar mais, já começo a <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong> morro, na reta não dá mais, <strong>de</strong>vo estar <strong>no</strong> través <strong>de</strong> Valença, viro para<br />
a esquerda à procura <strong>de</strong> Valença, a visibilida<strong>de</strong> piora, estou voando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> vales, os morros estão todos<br />
enfiados nas nuvens, Valença não aparece, estou voando <strong>no</strong> rumo sul, portanto a 90° com o Rio Paraíba,<br />
ele <strong>de</strong>ve aparecer a qualquer momento. Um riacho em baixo, observo a água, corre <strong>no</strong> meu rumo, é<br />
afluente do Rio Paraíba, estou certo, mais alguns minutos surge o Paraíba. Me agarro nele rio acima,<br />
agora eu vou para em Volta Redonda <strong>de</strong> qualquer jeito, as margens do rio são muito habitadas, muita<br />
cidadinha, não tenho mapa, não consigo i<strong>de</strong>ntificá-las, não tem importância nenhuma, é só não largar o<br />
rio que vou parar em Volta Redonda. Meu altímetro zerado em Juiz <strong>de</strong> Fora está com <strong>40</strong>0 metros<br />
negativos, o tempo começa a melhorar, ganho altura à medida que o tempo vai melhorando, uma hora <strong>de</strong><br />
vôo aparece Volta Redonda, o céu está azul sobre a cida<strong>de</strong>, estou <strong>no</strong> tráfego da pista. Gente lá na frente<br />
do hangar, eu nunca passei ali sem dar umas viradas, eles têm certeza que vou virar. Uma porção <strong>de</strong><br />
fatores, o tempo para frente estava bom, meu tanque <strong>de</strong> gasolina estava cheio, eu estava cansado ainda da<br />
festa, estava com pressa <strong>de</strong> chegar em Rio Claro, resolvi que pela primeira vez passaria ali sem dar umas<br />
cambalhotas e sigo em frente ganhando altura para ultrapassar os morros entre Volta Redonda e Resen<strong>de</strong>.<br />
Lá em cima do morro, o cemitério. Uns tratores estão terraplanando talvez para ampliar o cemitério,<br />
pensei, em caso <strong>de</strong> pane uma boa alternativa, mas logo me vem uma gozação, logo <strong>no</strong> cemitério. Meu<br />
altímetro marca quinhentos metros em relação a Juiz <strong>de</strong> Fora, estou rabiscando os morros. Resen<strong>de</strong> lá na<br />
frente. O motor funciona macio com 50 ou 60 % <strong>de</strong> potência, estou fazendo os cálculos sobre a gasolina,<br />
se dá para ir a Rio Claro ou on<strong>de</strong> reabastecer. O motor dá um tranco violento e apaga por completo,<br />
checo rápido à frente, não tem condição nenhuma <strong>de</strong> pouso, uma morraria <strong>de</strong>sgraçada, à minha esquerda<br />
Barra Mansa lá longe, faço 180° a fim <strong>de</strong> arranjar um lugarzinho para trás, inclusive o terre<strong>no</strong> lá do<br />
cemitério, que ficou muito lá trás. Já estou raspando o “cocuruto” dos morros, me ajeito parar aterrar<br />
numa costela <strong>de</strong> morro, na minha frente o morro acaba em cima com um facão, não cabe o trem na<br />
costela, <strong>de</strong>sisto na hora.