40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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Uma má comparação a aviação é como um violão, é comum encontrarmos um cara que não sabe<br />
nada, analfabeto, grosso, embriagado tocando violão, mas se perguntarmos a um gran<strong>de</strong> mestre <strong>de</strong> violão<br />
se ele enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> violão é capaz <strong>de</strong> ficar zangado com a pergunta, pois ele sabe que tem muito que<br />
apren<strong>de</strong>r. A aviação é escola <strong>de</strong> paciência, <strong>de</strong> amadurecimento e <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong>. Na vida comum existe<br />
um provérbio que diz: Quanto mais se vive mais se apren<strong>de</strong>, mas na aviação é ao contrário: Quanto mais<br />
se apren<strong>de</strong> mais se vive. Outro provérbio na vida comum: Água mole em pedra dura tanto bate até que<br />
fura. Na aviação: Avião duro na nuvem mole tanto fura até que bate.<br />
Quantos a<strong>no</strong>s fazendo acrobacias por este gran<strong>de</strong> Brasil, quantos alu<strong>no</strong>s brevetei, quantos<br />
instrutores <strong>de</strong>i duplo comando, quantas viagens para salvar vidas, com mau tempo, vôo <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>, sem<br />
condições para tal, quantas horas <strong>de</strong> vôo amargas para eu levar para casa o mínimo <strong>de</strong> conforto aos meus.<br />
Quantas panes, quantos sustos, quantos becos sem sida eu entrei, quantas vezes eu pensei está é a última<br />
burrice que eu me meti, mas a vida continua. Quantos amigos eu tenho por esse mundo afora, quantos<br />
amigos bons, quantos gran<strong>de</strong>s amigos, quantos ainda quero que se tornem meus amigos, ter amigos é ter<br />
uma riqueza que não se ganha por meios mercenários. Se me perguntarem se tudo isto compensou direi<br />
que sim, não sei se foi influência do meio que vivi, mas apesar dos a<strong>no</strong>s eu me sinto jovem, me sinto mito<br />
bem <strong>no</strong> meio <strong>de</strong> jovens, e me enquadro muito bem também, a conversa <strong>no</strong> meio jovem é sempre querendo<br />
apren<strong>de</strong>r algo, o porquê das coisas, a esperança <strong>de</strong> uma vida melhor, sensações, máquinas que correm e<br />
que voam. Uma conversa com Santiago Germanó, o gran<strong>de</strong> acrobata argenti<strong>no</strong> que passou dos oitenta<br />
a<strong>no</strong>s, qual o segredo do seu espírito sempre jovem, ele me aconselhou a não andar com velhos, pois os<br />
mesmos só falam em doenças, reumatismo e outros bichos, estou seguindo os conselhos <strong>de</strong>le, estou me<br />
dando muito bem. Os velhos só dão bons conselhos, mas quem dá bons conselhos é porque não pratica<br />
mais maus atos e na vida se a gente não fizer alguma coisa errada a mesma não terá sentido e eu acredito<br />
que não fugi à regra.<br />
Meus pais, seu João e Dona Júlia, que sofreram tanto com minhas peraltices quando eu era meni<strong>no</strong>,<br />
eu sumia <strong>de</strong> casa, não adiantava procurar por perto, eles <strong>de</strong>sconfiavam que eu <strong>de</strong>veria estar viajando num<br />
trem para qualquer lugar, mas não <strong>de</strong>ntro do trem, mas em cima dos vagões, torcendo aquelas manivelas<br />
dos freios dos trens antigos, quando eu saia <strong>de</strong> madrugada com o caminhão, para acordar eu acoplava o<br />
<strong>de</strong>spertador com a buzina do caminhão, acordava todo mundo, inclusive os vizinhos. Quando eu<br />
provoquei aquele aci<strong>de</strong>nte jogando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um pantanal uma porção <strong>de</strong> oficiais do exército e outras<br />
mais e mais. Se existe um céu tenho certeza que meus pais estão lá. Minha esposa e minhas três filhas,<br />
sei que não fui nada doméstico, mas fiz tudo o que podia, não tanto quanto vocês mereciam, minhas filhas<br />
que me <strong>de</strong>ram onze maravilhosos netos, que até agora não fiz o papel <strong>de</strong> avô, peço a vocês, mus netos,<br />
que criem mentalmente uma imagem do vovô que eu <strong>de</strong>veria ser, com pijama cheio <strong>de</strong> bolinhas,chinelos<br />
macios <strong>no</strong>s pés, com o corpo meio arcado para frente apoiado numa bengala, contando para vocês <strong>de</strong> viva<br />
voz essas histórias que a vocês, meu netos, eu as <strong>de</strong>dico ...