40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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SANTOS – PARIQUERA-AÇÚ<br />
Viagem <strong>de</strong> Santos a Pariquera-Açú, o avião era o STINSON. Decolei <strong>de</strong> Santos já era muito tar<strong>de</strong>,<br />
coisa que acontece muito com passageiros <strong>de</strong> Táxi Aéreo, era verão, tempo <strong>de</strong> CB, quando estava<br />
atravessando a Serra da Juréa escureceu toda a frente, era um CB gran<strong>de</strong> muito baixo, coisa comum <strong>no</strong><br />
muito litoral, pensei em aterrar na praia <strong>de</strong> Juréa , antes do CB, mas vi pelo jeito do mar que o vento era<br />
muito forte, <strong>de</strong>sisti da idéia <strong>de</strong> aterrar e sim prosseguir para a frente, estava só a 10 minutos <strong>de</strong> Iguape.<br />
Procurei baixar o máximo, <strong>no</strong> rasante e em cima da praia, fiquei logo embaixo das nuvens negras do<br />
CB, ficou tudo escuro não se via mais nada e a chuva <strong>de</strong>spencou, raios para todos os lados, a coisa era<br />
violenta mesmo e com dificulda<strong>de</strong> vi que estava atravessando a Barra <strong>de</strong> Icapará (foz do Rio Ribeira),<br />
entrando na Ilha Comprida, voava a 4 ou 5 metros <strong>de</strong> altura em cima da praia, acendi os faróis, a chuva<br />
era muito forte e a luz ricocheteava na chuva, iluminando todo o avião, mas não ia para a frente, perdi<br />
toda a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> altura e também a praia, apaguei os faróis, escuro como breu, mas conseguia me controlar<br />
com as luzes dos raios, sabia perfeitamente que aquela praia era muito cheia <strong>de</strong> paus por estar muito perto<br />
da barra e com as luzes dos raios ia me mantendo em cima da praia e por uma ou duas vezes tentei<br />
acen<strong>de</strong>r os faróis mas criava uma situação terrível voando naquela altura a alguns metros da praia. A<br />
chuva era cada vez mais violeta, o STINSON voava com dificulda<strong>de</strong>s, o motor todo atacado, comecei a<br />
pensar em pane, a água era <strong>de</strong>mais, preciso aterrar, mas a luz dos raios não dava para distinguir a altura da<br />
maré, os raios eram violentos e seguidos um do outro, pela velocida<strong>de</strong> que a praia passava, muito<br />
<strong>de</strong>vagar, o vento era forte e bem <strong>de</strong> frente, coloquei-me o mais baixo possível entre a arrebentação das<br />
ondas e o escuro do mato, um raio mais comprido um pouco vejo que estou em cima da areia, encosto as<br />
rodas na praia, o raio apaga, uma escuridão tremenda. A manete reduzida, as rodas estão girando em<br />
cima da praia, mas não sei a direção. Faço uso dos freios, mas não tenho <strong>no</strong>ção da altura do nariz do<br />
avião. Segundos intermináveis, esperei que fosse bater em algo, mais um raio e então vejo que estou bem<br />
<strong>no</strong> meio da praia com a cauda baixa, freio violento e o STINSON para.<br />
A chuva é violenta, acendo os faróis e ilumina só em volta do avião, água para todos os lados, ataco<br />
a manete para taxiar, o STINSON não anda, pensei logo, o avião está atolado, gritei para os passageiros,<br />
que eram o prefeito e dois vereadores <strong>de</strong> Piraquera-Açú , <strong>de</strong>sce empurra, <strong>no</strong> fim da aterragem eu tinha<br />
virado um pouco para o lado do mar e as ondas estavam <strong>no</strong> trem do STINSON.<br />
Os caras empurrando e eu dava todo o motor, não ia, <strong>de</strong>sço do avião <strong>de</strong>ntro d’água também, para<br />
ver o que havia e constatei que a roda esquerda estava atolada na areia, a chuva continuava, fomos os<br />
quatro do lado da roda atolada erguemos, <strong>de</strong>satolou, pulei <strong>de</strong>ntro do STINSON <strong>de</strong>i motor e os caras<br />
empurrando saímos.<br />
Encostei o avião rente a umas dunas <strong>de</strong> areia bem longe da maré, cortei o motor, estávamos todos<br />
molhados que nem pinto, os passageiros estavam apavorados, mas eu não, eu estava com a moral alta o<br />
STINSON estava inteirinho e num lugar seguro, disse para os caras, vamos procurar a casa da Salina que<br />
<strong>de</strong>ve estar aqui perto. Restava só saber se a casa estava para a frente ou para trás. A praia ainda tinha<br />
muita sujeira, <strong>de</strong>duzi que estávamos perto da Barra, portanto a casa está para frente. Pois a mesma era<br />
uns 10 quilômetros para frente da Barra. Calcei o STINSON com uns troncos <strong>de</strong> paus fomos nós a procurar<br />
a tal casa. Andamos umas duas horas, como é ruim andar na chuva, tudo molhado e finalmente apareceu a<br />
casa da tal Salina.<br />
Para chegarmos à casa tinha um valo, chequei a profundida<strong>de</strong>, a água veio até o pescoço, mas não<br />
tinha importância nenhuma naquelas alturas dos acontecimentos. Batemos na porta, não houve nenhum<br />
sinal <strong>de</strong> vida, meti o ombro na porta a mesma abriu, não tinha nada <strong>de</strong>ntro, mas sim muita lenha seca.<br />
Todos tinham fósforo, mas acen<strong>de</strong>r foi um duro danado. A fogueira acesa tiramos a roupa e ficamos que<br />
nem Adão. A chuva lá fora continuava, o prefeito disse, “lá <strong>no</strong> avião eu tenho duas caixas <strong>de</strong> frutas”.<br />
Eram 11 horas da <strong>no</strong>ite quando voltei com as frutas.