40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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Ai já apareceu mais gente, um caboclão bacana, forte tentou me por em pé, não agüentei a dor e pedi<br />
para me <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>itado, eles queriam me carregar, seria suicídio, nós íamos capotar todos morro abaixo. O<br />
caboclo disse que tinha um encerado na camioneta que estava <strong>no</strong> fundo da barroca e se <strong>de</strong>spencou morro<br />
abaixo em busca do mesmo. Mais alguns minutos vem o caboclo bufando morro acima com o encerado<br />
nas costas, esten<strong>de</strong>u o mesmo <strong>no</strong> chão com um sacrifício danado, rolei por cima do encerado, todos com<br />
uma mão <strong>no</strong> encerado e a outra <strong>no</strong>s arbustos para não <strong>de</strong>spencarem morro abaixo e lá ia eu <strong>de</strong> tobogã até<br />
o fundo da barroca on<strong>de</strong> estava uma camionete. Me ajeitaram do melhor modo possível <strong>no</strong> carro, fomos<br />
para Barra Mansa , estrada do sítio buraco <strong>de</strong> todo tamanho, que a cada soco do carro me doía até a alma,<br />
não era longe, mas <strong>de</strong>morou muito porque a estrada era muito ruim, enfim chegamos na cida<strong>de</strong>, passamos<br />
pela Delegacia <strong>de</strong> Polícia, <strong>de</strong>i ciência do ocorrido para um rapaz que veio até a camionete e pedi ao<br />
mesmo se tinha possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar por intermédio do rádio com a Delegacia <strong>de</strong> Rio Claro, ele muito<br />
pronto diz faço já, e fez mesmo, a Delegacia <strong>de</strong> Rio Claro se comunicou com uma pessoa muito minha<br />
amiga que por telefone acio<strong>no</strong>u a FAB para ir em meu socorro. Continuei na camionete até o Pronto-<br />
Socorro da Santa Casa <strong>de</strong> Barra Mansa. Lá me carregaram até a portaria, me sentaram num banco <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira duro como pedra, eu não me agüentava <strong>de</strong> dor e ainda tinha formiga me mor<strong>de</strong>ndo, eles<br />
começaram a fazer perguntas: “ Quem iria pagar” ? Eu disse que tinha INPS, mas queriam que eu<br />
provasse, provar como agora ? Disse também, que o avião tinha seguro, eles disseram que o seguro não<br />
paga essas coisas, naquele banco duro não agüentava ficar mais, queria <strong>de</strong>itar, estava quase pedindo pelo<br />
amor <strong>de</strong> Deus para me tratarem que <strong>de</strong>pois resolveríamos o problema <strong>de</strong> dinheiro. Confesso que eu<br />
estava meio biruta, não me lembrava do dinheiro que tinha <strong>no</strong> bolso do macacão, abri o zíper do macacão,<br />
tirei um pacote <strong>de</strong> dinheiro, aí o inquérito parou. Não precisava <strong>de</strong> seguro, INPS, mais nada, me levaram<br />
para a enfermaria, lavaram e costuraram a cara, uma chapa <strong>de</strong> radiografia constatou a vértebra quebrada.<br />
Um helicóptero persiste voando sobre a Santa Casa, fiquei implicado, já estou <strong>de</strong> azar hoje e este cara<br />
acaba caindo em cima da Santa Casa, o barulho acabou, daí a pouco entram dois oficiais da FAB, um<br />
Tenente, outro Capitão: Nós estamos aqui para obe<strong>de</strong>cermos às suas or<strong>de</strong>ns. Para on<strong>de</strong> o senhor quer ir ?<br />
Fiquei <strong>no</strong> momento meio abobado, nuca pensei que eu fosse tão importante, o que eu queria era ir embora<br />
Dalí para qualquer lugar. Aquele inquérito sentado naquele banco duro me fez um mal na alma. Eu não<br />
era um Zé Ninguém, era um piloto <strong>de</strong> avião. Sei que piloto <strong>de</strong> avião hoje em dia não tem valor, mas não<br />
tão pouco assim, pelo me<strong>no</strong>s eles <strong>de</strong>veriam ter respeitado o meu macacão, que dizia bem gran<strong>de</strong>: FAB. O<br />
Capitão sugeriu que eu <strong>de</strong>veria ir <strong>no</strong> Hospital da Aeronáutica, disse a ele, Positivo. Perguntei a ele se<br />
voava IFR ? Positivo, respon<strong>de</strong>u ele. Então vamos embora. Já estava escuro quando <strong>de</strong>colamos do<br />
campo <strong>de</strong> futebol que fica ao lado da Santa Casa. Confesso que tenho medo <strong>de</strong> helicóptero, ainda mais <strong>no</strong><br />
escuro. Deitado na maca eu via muito pouco do que estava se passando, o teto era baixo e nós íamos<br />
rasante em cima da Dutra. De repente incli<strong>no</strong>u para a direita, Via Dutra cheia <strong>de</strong> carros, continuou a<br />
curva, fez360°, fiquei implicado, o que será que está acontecendo ? Tinha um soldado perto <strong>de</strong> mim, quis<br />
saber <strong>de</strong>le o que havia, uma barulheira <strong>de</strong>sgraçada <strong>de</strong>ntro daquele troço que ninguém entendia ninguém.<br />
Voltou outra vez a voar na reta, mas eu não sabia se estava indo ou voltando. Lá na Santa Casa tinham<br />
me engessado todo o tronco, e o gesso estava acabando <strong>de</strong> secar. Que coisa horrível. Eu tinha a<br />
impressão que estava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um tambor. Estou <strong>de</strong>itado na maca rente à porta do helicóptero, procuro<br />
virar o corpo <strong>de</strong> lado, dói bastante, mas consigo através da janela ver a Dutra lá em baixo, ou ganhamos<br />
altura ou atravessamos a Serra, aquela barulheira parece que vai <strong>de</strong>smontar tudo, continua. Começa a<br />
aparecer mais luzes lá em baixo, <strong>de</strong>vemos estar chegando <strong>no</strong> Rio, mais alguns minutos estávamos sobre o<br />
Hospital, confesso que sou analfabeto <strong>de</strong> pai e mãe em matéria <strong>de</strong> helicóptero. Sobre o heliponto lá <strong>no</strong><br />
Hospital, vejo as árvores lá em baixo chacoalhando todas, faltava só esta agora, quero ver como ele vai<br />
pousar com esta ventania toda. Pousou, não tinha vento nenhum. Desembarquei numa equipe <strong>de</strong><br />
médicos e enfermeiras, o Capitão comandante do helicóptero me disse que sua missão não tinha acabado<br />
ainda. “Nós temos condição <strong>de</strong> retirar do local o BUCKER, com helicóptero e levá-lo para um lugar on<strong>de</strong> o<br />
senhor <strong>de</strong>terminar.” Perguntei a ele se não iriam acabar com o resto do avião, me respon<strong>de</strong>u que “tinham<br />
uma equipe especializada e fariam tudo sem problema nenhum.” Eu respondi então, positivo, retirem o<br />
avião <strong>de</strong> lá e levem para Volta Redonda.<br />
Os médicos me levaram direto para o raios-x, tiraram uma porção <strong>de</strong> chapas, todas constava uma<br />
vértebra trincada, uma fratura antiga na bacia, já cicatrizada, me perguntaram quando eu tinha quebrado a<br />
bacia, respondo que negativo, nunca quebrei a bacia, outra série <strong>de</strong> chapas e todas as mesmas coisas. Eles<br />
pensavam que eu estava querendo escon<strong>de</strong>r, mas não estava não,. Levei tantos trompaços, num <strong>de</strong>sses<br />
quaisquer, <strong>de</strong>vo ter quebrado a bacia, tantas panes <strong>de</strong> avião, tombos <strong>de</strong> motocas, uma porção <strong>de</strong><br />
trombadas <strong>de</strong> automóveis, vou lá saber on<strong>de</strong> e quando eu quebrei a mesma. Depois <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nte<br />
geralmente a gente passa alguns dias sentindo dores, comecei a pensar em qual dos aci<strong>de</strong>ntes fiquei mais<br />
tempo com dores, cheguei à conclusão que foi na pane em Registro com o Bonanza.